Fantástica Gramática Automática
Wednesday, January 30, 2008
  A morte (tríptico parte três)
Já me matei. Agora vai demorar algumas horas.
 
Tuesday, January 29, 2008
  A morte (tríptico parte dois)
Escrevi no meu diário que me ia matar. Queria que a minha mãe lesse, mas ela sempre foi demasiado respeitadora. Queria que ela não fosse fiel aos seus princípios. Queria que ela gostasse mais de mim, que se preocupasse mais comigo do que com os seus princípios. Se ela o lesse queria dizer que se preocupava e que gostava de mim. Mas não leu.
 
Sunday, January 27, 2008
  A morte (tríptico parte um)
Vou-me matar. Com qualquer coisa indolor e inodora e insensível.
 
Thursday, January 24, 2008
  Expressões do Ocidente
Uma das mais interessantes formas de conhecimento é o discurso. Observar atentamente
(com os olhos interiores aqueles construídos pela linguagem e que alcançam mais longe que qualquer)
as palavras escritas e/ou proferidas e delas retirar mais do que a sua forma ou do que a sua conjunção em frases e parágrafos. Tal como a autobiografia é, em certa medida, ficcionada, também o romance revela algo de realidade.
De todas as formas de análise textual, esta é uma das que mais me agrada e fascina, a descoberta de pequenas traços que desmascaram o produtor
(porque estas acções inconscientes são a traição dos nossos pensamentos mais íntimos disse primeiro freud e depois okakura mas independentemente de quem disse primeiro não deixa de ser verdade)
. Edward Said escreveu um livro muito interessante
(orientalismo)
onde defendia que o “Oriente” era uma construção discursiva dos europeus. E que toda a sua mitificação e exotização era uma forma de conhecimento ou de catálogo por parte dos europeus. Talvez Edward Said tenha lido o Livro do Chá, talvez não. Mas nele surge a perspectiva asiática
(de um japonês radicado no reino unido)
, que reconhece a estereotipitazação dos europeus:
“O ocidental comum, na sua regular complacência, verá na cerimónia-do-chá apenas outras instâncias das mil e uma peculiaridades que, para ele, constituem a singularidade e a infantilidade do Oriente” (Okakura 1998: 11).
Aqueles que eram estereotipados sabiam que o estavam a ser. E, sabendo, deliberadamente riam da situação, da mesma forma que estereotipavam os “Ocidentais”:
“Haveria mais matéria para júbilo se soubésseis tudo o que imaginámos e escrevemos sobre vós. Aí reside todo o fascínio da perspectiva, toda a homenagem inconsciente da maravilha (...) Fostes cobertos de virtudes demasiado refinadas para serem cobiçadas, e acusados de crimes demasiado pitorescos para merecerem condenação. Os nossos escritores do passado – os homens sábios que conheciam – informavam-nos que havia caudas espessas escondidas algures sobre as vossas vestes, e que amiúde jantáveis fricassé de crianças recém-nascidas! Não tínhamos algo pior contra vós: pensávamos serdes as gentes mais incoerentes sobre a terra por terdes fama de pregar o que nunca praticáveis” (Okakura 1998: 12).

OKAKURA, Kakuzo (1998). O Livro do Chá. Tradução de Fernanda Mira Barros. Lisboa: Edições Cotovia.
 
Tuesday, January 22, 2008
  Não é que o tempo me falte
Não é que o tempo me falte ou que o lazer me sobre
(mas como sou capaz de ficar a olhar para esta fotografia durante tempo sem reconhecer tempo apaixonar-me por cada contorno das pernas sobre os saltos das nádegas dos seios que imagino das costas e dos braços que prendem o cabelo com ganchos)
.
 
Monday, January 21, 2008
  Quando não tenho tempo
Quando não tenho tempo invento um título bonito e procuro uma imagem ilustrativa para mostrar que o blogue é algo a que me dedico
(normalmente invento umas frases engraçadas e depois até acrescento um bocadinho de texto qualquer coisa relacionada com o que vi na rua cheirei em casa ou toquei num corpo)
e que não fica esquecido nas viagens. Mas hoje nem sequer tenho tempo para me lembrar de uma frase, de encontrar um fotografia. Hoje decidi ser honesto. E num parágrafo só digo que não tenho tempo sem imagens
(desfaço o imbróglio de ocasionalmente publicar imagens sem texto desfaço o nó e deixo de ter truques porque sempre que publicar uma fotografia como conteúdo hão-de pensar que o tempo não me anda a sobrar nas mãos e nas teclas. deixo estes artifícios de lado mais ainda porque quis um blogue essencialmente de texto verbal mais do que outros tipos de texto eu que um dia lhe chamei literário sem saber que não era eu quem lhe conferia esse estatuto)
.
 
Thursday, January 17, 2008
  Os fantasmas e a morte
Quero um dia conversar com um fantasma, algo que surja da idade de um lugar, da força de uma recordação. Dizia olá Dorian,
“Olá Dorian”
e ele respondia olá,
“Olá”
e ficávamos a conversar
(quero conversar com um fantasma e aceitá-lo como algo natural não como um ser que me vem assombrar mas sim como alguém assombrado que regressa porque houve na sua vida terrena algo inacabado. não tem que ser amor ou ódio simplesmente uma vida colhida cedo de mais como a palha na iminência da chuva precoce)
. Tentava não ter medo. Perguntava porque regressaste, porque estás aqui,
“Porque regressaste, porque estás aqui?”
e como quem procura as palavras respondia que morreu sem saber e que precisa de acabar algo para poder morrer totalmente,
“Morri sem saber, tenho precisão de acabar algo que não sei o que é para morrer totalmente”
. Provavelmente não acreditaria que tinha visto o Dorian e acabaria por atribuir a um sonho nunca a uma realidade que se misturava com a imaterialidade. Gostava de conversar com um fantasma com a naturalidade de quem aceita a metafísica como algo natural. Mas céptico, atribuiria os devaneios à líbido.

“Senhorita Saeki, senhorita Saeki, senhorita Saeki”
, chamaria pela senhoria Saeki três vezes para que se virasse. Queria tanto vê-la. Ainda que viva, é um fantasma
(porque regressas ao meu quarto passados tantos anos agora que te vejo velha e te desejo nova)
à noite quando dorme e a alma abandona o corpo.
“Porque me chamas se não é a ti que procuro, se não é a ti quem quero. Há muito desejei alguém que não pôde ser meu. Agora não me chames que mesmo que por ti me apaixone não te posso ter”
, responder-me-ia que não era eu quem procurava, que não era eu quem queria. E mais diria a senhoria Saeki
(eu queria conversar com um fantasma vivo e com um fantasma morto para que pudesse compreender a força que nos move além do corpo. e para ter razões para acreditar no mundo alternativo e metafísico que sempre renunciei por ser pouco sensível mas que sempre desejei ter e compreender)
.
 
Saturday, January 12, 2008
  Violência natural
Há violência na natureza. Mas não há crueldade na natureza
(podia ficar só assim e deixaríamos as explicações e justificações na virtualidade do pensamento individual de cada um e íamos embora até amanhã que se faz tarde e eu ainda tenho tanta coisa para fazer. mas para que não tenha que regressar ao assunto e explicar tudo porquê fica já a explicação completa)
.
Há violência na natureza. A violência é o nome que damos a um comportamento com certas características
(violência é apenas um nome um palavra que usamos para nomear um comportamento que podia ser outro comportamento qualquer uma nomeação de objecto)
. No entanto, considerarmos que a violência é uma coisa boa ou má já entra no campo dos juízos de valor morais
(violência é mau paz é bom)
. Mas não há violência na natureza, apenas sobrevivência, sobrevivência obtida através de um comportamento cujas características objectificam a violência
(mata-se com a sobrevivência como justificação que pode igualmente ser obtida através da violência. a sobrevivência pode ser obtida de forma violenta e através da morte sendo a morte algo natural e a sobrevivência algo natural também a violência é natural)
. A violência faz parte da natureza. Há violência na natureza.
Mas não há crueldade na natureza. A crueldade é um conceito moral e a moral surgiu ao mesmo tempo que a consciência do Homem
(porque a luta pela sobrevivência com morte ou sem morte com violência ou sem violência faz-se através de comportamentos instintivos e animais e naturais e não através de códigos de conduta morais ou de descrição moral. não pode haver moral num contexto instintivo)
.
Há violência na natureza. Mas não há crueldade na natureza
(agora é que fica assim)
.
 
Tuesday, January 08, 2008
  Do amor e das camas
A
(os colchões já deviam vir com amor)
.
M
(não. os colchões são objectos o amor e os cheiros e as manchas somos nós quem lá as põe)
.
 
Monday, January 07, 2008
  Fazer mudanças
É tão difícil fazer mudanças. Não as dos outros, essas são fáceis, é dos trabalhos mais fáceis que existem
(esvaziam-se gavetas para dentro de caixas desmontam-se armários e camas cómodas com triciclos bicicletas)
e não temos que nos preocupar com mais nada a não ser com a a força que temos que fazer nas pernas e nos braços e muito cuidado com as pernas por causa das costas. Quando são as nossas próprias mudanças
(não são os músculos das pernas nem dos braços nem o baço das costas que custam é a vida que temos que arrumar sem saber quando a voltaremos a desempacotar e sem saber se quando o fizermos não estará já tudo demasiado espartilhado e envelhecido tão fora de moda que já não sabemos que éramos e o passado novo que já construímos substitui tudo aquilo que está mais para trás)
é a cabeça que se cansa, são os olhos que não sabem decidir que vida queremos guardar.
É como arrumar a cabeça, há coisas que esquecemos, outras que guardamos sem qualquer critério
(as memórias são tão pouco criteriosas e obedecem apenas a encontros aleatórios que temos ainda há dias encontrei numa gráfica onde fui fazer um scan um colega de faculdade que não era amigo porque andava a ver se fornicava com a minha namorada da altura)
e de repente lembrei-me de tantas coisas que já não me lembrava que me lembrava. Daquelas que não sabemos porque é que nos lembramos nem sabemos porque é que guardamos connosco
(daquelas que sem o menor pejo jogaríamos no lixo e só conjugo o verbo jogar neste contexto porque já li o lobo antunes a fazer o mesmo num livro dele por isso já não tenho vergonha de escrever já que assim que estou tão perto do algarve para escrever jogar como estou da beira para dizer à minha beira)
. Mas porque é que não deitamos para o lixo aquilo que não interessa? Porque é que insistimos em transportar no nosso corpo tatuagens mentais da nossa vida
(momentos vergonhosos e humilhantes a que só assistimos na individualidade do nosso corpo e na precisão cirúrgica do nosso próprio juízo sobre a carne flácida)
?
Acabamos por trazer às costas pesos que sabemos e que não sabemos, como as pedras que nos colocavam às escondidas na mochila
(a mim pelo menos)
.
 
Friday, January 04, 2008
  Da não-moral
É porque também estou quase no fim
(e foi mais tempo que a república mas acho que isso é porque também não tinha tanta disponibilidade como quando lia na cantina do british museum)
, há tanto tempo que não demorava tanto tempo a terminar um livro. Disse o mesmo com Platão, mas achava que tão cedo não repetiria a graça.
Porque se o precursor era também precursor da moral, o sucessor considerava que a moral era aquilo que destruía uma sociedade
(estas afirmações do sucessor tinham origem numa sociedade de base moral religiosa ou de origem religiosa da mesma forma que a ausência de moral fez com que o precursor assentasse a sua lógica na moral que mais tarde veio a ser utilizada para um sem fim de credos)
.
Hoje em dia observamos que a religião – e por sua vez a moral – está cada vez mais afastada das pessoas, o que dá origem a fenómenos de filosofia moral, no seu exemplo mais gritante com o nome de Fernando Savater. Pretende moldar princípio intelectuais e de conduta
(laicos)
sem se aperceber que esses mesmo princípios ou verdades foram já códigos
(cruéis)
de conduta religiosa.
Há uma alternância entre períodos de moralismo e anti-moralismo
(e como em qualquer ciclo para haver um objecto dominante há outro objecto dominado que há-de ser dominante. nesta alternância não variam os referentes ou significantes. mesmo estes podem ir mudando de condutas religiosas a princípios morais e com os tempo chegarem a ser verdades universais comummente aceites que já não são questionadas nem a sua história e origem lembradas)
, mas sim os nomes contingentes ao zeitgeist. A origem destes ciclos vem da moral religiosa que passa a verdade e depois a princípio e da reacção a esta moral, cuja sua maior expressão foi veiculada pelo sucessor.
No entanto os conceitos que defende para o espírito-livre derivam da moral religiosa: honestidade, verdade, assertividade. E não se apercebe que o homem filósofo que propõe não está tão longe do filósofo-rei do esfíngico precursor.
 
fgautomatica@gmail.com | 'é necessário ter o espírito aberto, mas não tão aberto que o cérebro caia'
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