Fantástica Gramática Automática
Sunday, August 31, 2008
  É uma ficção
Tinha planeado escrever algo sobre história e arte e museus. Qualquer coisa que envolvesse o valor que uma comunidade confere a um objecto
(que mesmo que não seja artístico ganha esse valor com o tempo histórico)
. E sendo eu uma pessoa com uma personalidade quase-aditiva
(que gosto mais de rotinas do que de as quebrar)
, é muito raro não seguir o meu plano. Mas tenho a rotina, não a prioridade. E a prioridade hoje é para não seguir sobre a história e sobre a arte e sobre os agregados museológicos.
A prioridade é uma reflexão sobre a diferença entre literatura e ficção
(tal como a li uma vez num ensaio que por uma ou duas vezes citei mas que não era assim tão importante quanto isso)
. Disseram-me para não me meter nessas aventuras porque isso era uma discussão que os ingleses
(ou anglo-saxónicos nunca me consigo recordar das coisas importantes. são coisas que nos momento me parecem pouco importantes mas que depois embalam ideias)
gostavam muito de ter, não os portugueses. Alguns meses mais tarde tenho uma proximidade extremamente íntima com a realidade britânica
(e nunca essa discussão me pareceu mais pertinente)
. As pessoas compram livros para entretenimento
(e sustenho também a teoria e ideia pessoal de que as pessoas no reino unido só compram livros porque têm que passar muito tempo em transportes públicos)
, o que é uma razão tão válida como o prazer de ler para pensar. A discussão existe porque distingue a comunidade que lê para passar o tempo nos transportes públicos enquanto se desloca entre casa e o trabalho
(a mesma comunidade que lentamente substitui o livro pelo ipod com vídeo)
e a comunidade que lê pelo prazer de se cultivar. São estas comunidades e os valores
(e juízos de valor)
que as assistem que, naturalmente e dentro das suas contingências culturais
(que são comuns ou caso contrário não seriam comunidades)
, determinam essa diferença. E os objectos a que se referem até podem ser os mesmos, simplesmente são encarados de modos diferentes
(porque não estamos a falar de características intrínsecas aos objectos em causa obras mais do que livros mas sim às características que as comunidades lhes atribuem)
pelas comunidades em causa.
Mas compreendo que me quisessem afastar desta discussão
(especialmente se quem me exorta acredita que não há literatura sem ficção. ora bem pois eu acho que há)
porque talvez na altura não estivesse preparado para reflectir sobre isso. Agora, disse o que tinha a dizer.
 
Tuesday, August 26, 2008
  Livros, livrarias e programas de televisão: escalas
É incomparável o número de leitores
(consumidores de livros)
que há em Portugal e que que há no Reino Unido
. Não é de espantar então, que um programa como o Richard and Judy Books
(um programa no channel 4 em que livros eram recomendados)
, tenha lugar na televisão e que, ao longo de cinco anos, tenha feito vender vinte e seis milhões de cópias e gerado lucros para as livrarias na ordem dos cento e cinquenta e oito milhões de libras. Acabam as vacas gordas quando o Channel 4 anuncia o fim do programada
(vacas gordas para as editoras e para alguns autores aqui nem sequer se aplica produtores)
, que vai passar para um canal de cabo que ninguém vê, ou a que muito poucos têm acesso. Contudo, o que conta agora é o autocolante na capa do livro que diz Richard and Judy Books, não o programa de televisão
(há no meu local de trabalho um estante unicamente dedicada a estas recomendações e pela quantidade de vezes que tenho que repor vende bastante bem)
, e por isso, talvez, ainda haja mais vacas gordas para vir.
Observando os títulos e os autores
(uma vez mais e não por distracção abstenho-me de usar a palavra produtores)
é só natural que fosse um programa pago, patrocinado, promovido pelas editoras. E nada mais. Gostava de afirmar que neles não há valor literário absolutamente nenhum, são objectos de entretenimento e não literatura. Não posso fazer essa distinção
(porque é maior que eu a comunidade que valida esses objectos ou conteúdos como literatura)
, estaria a retroceder nos meus princípios académicos e pessoais.
Na sua pequena escala
(a mesma que os seus leitores ou a importância do seu mercado livreiro)
Portugal tem algo semelhante: não um programa, mas sim o final de um programa. Marcelo Rebelo de Sousa faz de homem e mulher num equilíbrio de filantropo e recomenda maravilhosos livros
(é tão politicamente correcto que irrita e se concentra essencialmente em autores portugueses)
. Acho feliz a concentração em autores portugueses. Mas que sabe ele de literatura? Preferia ter Manuel Frias Martins, como há uns anos atrás na Antena 2. Ao menos sabe do que fala
(mas como somos portugueses e mesquinhos e pequeninos vamos pelos vemos na televisão e não pelo que ouvimos na rádio. porque é na televisão que há celebridades)
.
 
Saturday, August 23, 2008
  A título de excepção
. Ao longo da sua obra
(ou do pouco que eu li da obra de oscar wilde)
Oscar Wilde defende, através da sua própria voz ou através de paradoxais conversas filosóficas dos personagens que cria, a beleza e a arte. Rejeita, naturalmente, qualquer teologia ou dogmatismo religioso, independentemente do credo
(aquilo a que chamei teologia ou dogmatismo é aquilo a que ele chama moralidade
ou
no seu caso pessoa a ausência dela)
. Quando sai quixoticamente em defesa da arte e a beleza descuida-se e perde-se em argumentos mesquinhos
(juízo de valor utilizado propositadamente e não descuidadamente)
caindo no erro que eu me forcei, empregando juízos de valor pedantes.
A beleza e a arte são conceitos que forçam atitudes culturais e sociais
(contingentes a uma época e aos seus produtores)
, mas o modo como são encaradas faz com que tenham o mesmo valor que a teologia e os dogmas de uma qualquer religião
(porque acreditamos tão cegamente nela porque as vemos tão carregadas de juízos de valor que há muito perdemos de vista a sua origem e as vemos unicamente como verdades universais e inquestionáveis)
.
Eu gosto de Oscar Wilde, mas isso não me impede de tecer estes comentários a seu respeito. Mais do que nunca entendo a importância de ser... sério?
 
Tuesday, August 19, 2008
  Viver em Londres
This service is being delayed due to a... Er... Signal failure.
– What exactly is a signal failure? Do you think it means that a bulb has popped in one of the green or red lights and they're waiting for someone to come and screw a new one in? Or is it just the public transport equivalent of 'I'm washing my hair'? And what about 'planned engineering work'. Are we supposed to believe that just because they've thrown in the word 'planned' it's all ok?
– Personally I think a lot of the tube relies on good luck. I mean – some of these tunnels date back yonks. It's probably a miracle that things work at all. We should be thankful.
– Well... As long as they don't go and do something crazy like install air-conditioning. I plan to spend all of next winter down here when we can't afford to heat the house anymore.
– I'm going to go and stand next to traffic lights and wait for buses to come and leak hot fumes on me.
– Oh the tragic irony of modern man thriving on aged technology and pollution.
– We're the cockroaches of the noughties. When everything else has sucumbed to global disaster, there still be londoners.
 
Sunday, August 17, 2008
  Pequenas notas
Isto é como tudo
(até mesmo como um movimento pendular entre o sim e o não)
, tantos dias sem escrever e viagens de avião e comida do consolo, para o bandulho e para a alma, que chego e oscilo
(entre o sim e o não)
. A lanzudice tanta e amanhã outro tanto para fazer que começam tantas fezes por vezes de outras que entretanto cessaram. Mas isso é conversa de bufete, porque embora não tenha escrito nos últimos dias pensei que me fartei de pensar
(mas como isso é algo que eu não consigo evitar fazer continuei a pensar mesmo que estivesse cansado de o fazer e o meu pensamento fosse para deixar de pensar)
. Então refinei ideias que tinha tido.
Esta encontrei-a um dia no arco do cego, antiga estação de camionetas, na altura programada jardim de Inverno e transformada em inferno de estacionamento pago em Lisboa
(e envolvia uma entrevista a josé luís peixoto e um dos seus livros uma casa na escuridão)
. Mas como isto anda tudo ligado, interludo para dizer que o meu fio condutor são as “Metamorfoses” de Ovídio
(e estando a referência dada a ela regressarei jamais excepto a título indirecto de referência clinamen
tessera
kenosis
demonização
askesis
apophrades)
. Quando José Luís Peixoto afirma que escreve sem se referir a outros produtores, pode querer não o fazer, mas de literatura somos todos consumidores directos ou indirectos
(por isso a sua peste tão-bem-criada é o retrato de uma outra por zangas amorosas)
. Esta tentativa de forçar um espaço cultural puro é uma ilusão
(espaço esse já provado impossível)
, isto está tudo ligado. Os conceitos, tal como as imagens e as metáforas são construídos em relação.
A nova moda
(só me consigo recordar da palavra trend mas como este parágrafo vai ter um tom depreciativo prefiro manter o anacronismo de moda para condizer com os nomes)
é a da revisitação colonial. É de louvar Miguel Sousa Tavares – o poeta forte –, Tiago Rebelo e Margarida Rebelo Pinto. Outros se seguirão, mas não têm nomes sonantes nem ódios de estimação. Modinhas
(tom ainda mais depreciativo)
.
 
Friday, August 08, 2008
  Época pateta

 
Monday, August 04, 2008
  Da língua e do pensamento e da identidade
Nunca sei
(quando
ou)
se hei-de começar a escrever em inglês. Ou se devo manter a escrita em português. Quero uma maior comunidade que me valide
(uma comunidade que seja transversal a uma língua franca que seja necessária ao mundo de appadurai)
e que tenha acesso à minha produção. Existe mesmo ao lado
(mais do que qualquer resquício ou onanismo nacionalista)
,o medo residual de começar a perder o pé e a mão e pensamento na minha própria língua
(que tantos quanto anos demorou a manobrar e manejar apropriadamente)
. Assusta-me um dia saber falar e escrever uma língua tão bem e não senti-la sequer como minha e a minha perdê-la
(às custas de uma que não é minha)
lentamente sem me dar conta e um dia já não saber sequer pensar.
Amedronta-me a morte e de morte. Quero repartir, segmentar o meu cérebro em dois
(porque não sendo exilado não estou em casa
sendo casa um lugar que agora é apenas dentro de mim e só mim que no exterior do corpo não sei localizar)
e ser uma pessoa e a mesma em cada língua. Ser contingente ao pensamento de cada língua.
Sou duas pessoas e meia, não querendo muito à meia, gosto da duas completas
(uma portuguesa uma inglesa e meia castelhana)
, dividindo-me ainda mais na minha consanguinidade global. E na impossibilidade da definição, até da própria definição, de identidade, não sei quem sou agora.
 
Saturday, August 02, 2008
  A humilhação do género
Começou
com um olhar ente o Sono e o Trópico de Câncer
(the tropic of cancer no original a nas mãos dela)
. Mas eu quero regressar ao sono e aos filhos do sono que mimetizam as pedras e os animais e as pessoas que até a vozes são iguais para que depressa a adoração errada seja acertada e perdoada. Levanto os olhos e as mãos que seguram o trópico estão fixas em mim
(não confio em mulheres que lêem henry miller e usam vestidos curtos e têm cabelo curto também. tenho medo delas e atraem-me tanto que em breve já não tinha sono)
com um sorriso. Pesa-me os olhar no corpo
(e devia ser minha a leveza devia ser eu tomas e ela tereza mas ao contrário é ela tomas e eu tereza sempre fui tereza mesmo que primeiro viesse a identificação de género)
e traz-me à terra. Devia ser eu leve
(mas não sou e saio depressa na mesma estação sou seguido até casa e na segurança do prédio acenam-me e enviam-me um beijo. entro em casa e choro)
.
 
fgautomatica@gmail.com | 'é necessário ter o espírito aberto, mas não tão aberto que o cérebro caia'
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