Fantástica Gramática Automática
Saturday, December 10, 2005
  Tempo de Vida
Quantas vezes não ouvi o sol nascer no crepúsculo matutino? Ainda que assim estivesse a dormir. Foram alguns anos, multiplicados pelos dias de cada ano são oito mil trezentos e noventa e cinco dias. Mais os meses e dias, noventa e quatro: oito mil quatrocentos e oitenta e nove dias. Já vivi todos estes dias, talvez mais uns oito, ou sete, se contarmos com os anos bissextos.
Já vivi perto de nove mil dias, já vi perto de nove mil crepúsculos matutinos e vespertinos, já vi o sol-pôr atrás das nuvens sem dar conta que ele desaparecia. Já o olhei, nos últimos segundos, quando ele se esgotava na longitude do mar, quando não havia mais montanhas, quando não havia árvores. Os últimos segundos em que conseguimos perceber a Terra a mover-se, em que conseguimos realmente ver o movimento do sol a desaparecer.
A minha mãe conta-me uma história sobre mim: «Quando tinhas três anos perguntaste-me se já tinhas vivido mil dias. E eu respondi que sim, porque já tinhas vivido mesmo.» Três anos, mil e noventa e cinco dias. Por pouco tinha vivido mil dias, por três meses e alguns dias tinha vivido os mil dias que tanto ambicionava aos três anos. E dez mil dias? Lá para Janeiro de dois mil e dez chegarei a essa meta. E mais? Não sei.

Imagino-me em adolescente, quando me diziam com a arrogância dos trinta, cresce a aparece – como eu detestava essa arrogância que achava tão charmosa – devia ter respondido e eu já tenho cinco mil dias. Era uma forma airosa de responder, mas a verdade é que quando somos adolescentes não somos muito espertos nem airosos. Somos brutos e desengonçados. E de qualquer das formas, quem tinha a arrogância dos trinta, tinha também pelo menos mais quase seis mil dias de vida, cerca de dez mil novecentos e cinquenta dias. O que estava em causa era apanhar a pessoa despercebida e conseguir sair da argumentação enquanto a outra parte ainda estava submersa em contas mais ou menos exactas. Mas quando somos adolescentes somos um pouco estúpidos.
E o que mais me deixa furioso é que só passados quase dez anos é que consegui encontrar uma boa resposta.
 
Comments:
Parece que as respostas nunca andam ao compasso do tempo de vida, acabamos sempre por descobri-las quando já passaram mais de mil dias...
 
o tempo não pára, apenas agonia quem sofre com falta dele!!!
 
diria que é uma resposta demasiado boa para comentário tão idiota... quem aos 6 mil dias não percebe a sabedoria que se pode adquirir em alguns minutos apenas não aprendeu nada, acho eu...

Bjs
 
Um texto inteligente a procurar a interacção dos leitores, quiçá mais das leitoras, na procura de elementos pessoais de quem edita (este mistério alimenta e de que maneira! o diálogo?! na blogsfera). O cálculo mental ou a calculadora de bolso vão trabalhar, aposto.
 
Também sempre me tem assombrado, ao longo do tempo, a incapacidade que tinha de responder à letra aos mais velhos. A mesma dificuldade que tenho hoje com os mesmos "mais velhos". Só agora percebi que, mesmo que tivesse na altura milhares de dias de vida para lhes oferecer como argumentação, isso não lhes curaria a surdez em que ainda hoje vivem.
 
Tenho somente a sensação de que as respostas vêm com o tempo certo para coexistirem com a lógica do nosso registo temporal......
 
é sempre assim: só passados alguns anos é que nós temos as respostas certas para factos que ocorreram no passado...
 
Que dia é hoje?
 
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