Fantástica Gramática Automática
Thursday, August 30, 2007
  Maria
Gosto de pensar que ela se chamava Maria do mar
(sem nenhuma qualquer referência estival sem ser aquela que nos uniu duas semanas no Verão e não chegaram a ser duas semanas que ela se foi embora a meio)
. Já não me lembro do nome dela. Sei que era Maria de M
, Maria da M
, Maria do M mas já não sei o que é que M quer dizer. Hoje é mar. Amanhã pode ser medeiros, mónica, Maria segunda vez. Lembro-me porque era M mais M e apesar de não me lembrar o que M queria dizer. Hoje é Maria do mar e chega só.
Tinha os cabelos de marmelada e gengibre e era bom estar ao pé dela. Os olhos
(como o nome de hoje)
não eram do mar, eram das olivas, dos carvalhos, de outros frutos mas não eram do mar. Mar é só o nome e é hoje. Lembrei-me da Maria do mar, com andar de girafa desengonçada dos catorze anos que tinha, quase tão alta como eu
(e nem um beijo, um leve e subtil tocar de lábios
.
 
Sunday, August 26, 2007
  As palavras sentidas
(fuck prick cock wanker bitch)
É de manhã e já é de tarde porque sol é tão quente
(a televisão fala de Curral de Moinas e dos filmes de hardcore que passam no cinema da vila
hard porque os olhos ficam tão esbugalhados que ficam a arder
core porque uma pessoa coraria só de ver a mulher do Amâncio no coreto
amanse-o
amansado pela pornografia caseira)
. Isto para justificar a espera numa sala de espera. Não lia já. Havia de ter lido mas naquele momento não queria, tenho-me interessado por tudo. Pela senhora que ninguém conhece e escreveu a vida em livro de poesia e o livro de poesia a brincar às rimas pobres e quadras malhadas foi editado pela câmara municipal de Loures e embora o livro não tenha valor literário
(a não ser que alguém o trate como literatura)
é contingente aos valores pessoais e à vida de quem o escreveu, do tempo em que o centro comercial do sol e da lua não tinha arrasado a lezíria e a quinta do infantado era um feudo onde mulheres andavam de cu para o ar a ceifar e os homens as derrubavam mas margens do afluente do Trancão para lavar as vergonhas
. A televisão em rodapé dizia que te amava e que eras o homem da minha vida, que eras a minha vida e que não havia mulher no mundo que mais amasse e adorasse a mãe dos meus filhos o meu companheiro a guerra em Moçambique a namorada com queria casar assim que arranjar dinheiro para comprar a anilha e quero encontrar os que não estão mutilados do meu batalhão sob o comando do capitão silva que andou na mata de Angola nem quero os que estão fodidos e amo-te homem mulher da minha vida e amo-te a ti e aos nossos filhos
(não por esta ordem nem por estes sexos todos misturados
“amo-te meu amor, és o homem da minha vida e amo muitos os nossos filhos fruto do nosso amor e do meu ventre. adoro-te carlos adozinda – freixo-de-espada-à-cinta”)
. Não me impressionava o uso da palavra mas sim a sua conjugação verbal. É dos verbos que mais detesto e dos conceitos que mais querido me é. Aquele. E o seu uso. Senti que a palavra se descolava do seu conceito, o significado do significante
(nesse momento a palavra não era mais do que dizer palavrões numa língua estrangeira não compreendemos o seu peso, que nem a leveza da literatura pode aliviar
apenas suster instantaneamente)
.
(fuck prick cock wanker bitch)
 
Wednesday, August 22, 2007
  Cadeira
Até finalmente me ter conseguido sentar. E depois levantei-me e fui fazer outra coisa
(procurar ideias ao frigorifico à cama por fazer às memórias de férias ou do trabalho ou a outras coisas quaisquer)
. E depois voltei a sentar-me sem me conseguir concentrar
parece que volto a sentir a angústia que às vezes não me deixa dormir
(já tive uma ideia o homem manco que subia da rotunda do relógio em direcção aos olivais
depois e tanta terra sem mar a nos separar
e na mão que não ajuda a manquez levava tantos garrafões que à luz do sol ganhavam brilho e pareciam uma flor com o desequilíbrio da perna trôpega e estragada)
porque se todos os dias trabalhava, se todos os dias escrevia, se todos os dias me sentava e tinha ideias fui deixando-as fugir e repousar para mais tarde, como um caçador de borboletas que se senta numa pedra triste
(ou no assento do carro a chorar por uma carreira mal escolhida
quando eu quando recebi o diploma em casa e dizer que era oficialmente reconhecido por uma instituição pública de ensino superior que era educador de infância que remédio remediar a situação e escolher)
. Sentei-me a fazer outras coisas inúteis no computador e levantava-me para comer pão com queijo. Até que escrevia e as palavras custavam tanto, já não eram palavras anónimas e casuais, não eram aleatórias nem passeavam sós
(tal como todas as outras e de todos os outros traziam Platão Ovídio e a Bíblia)
.
 
Sunday, August 19, 2007
  PAUSE/PLAY
 
Monday, August 06, 2007
  Momento suspenso à espera de regresso
Photo Sharing and Video Hosting at Photobucket
 
Saturday, August 04, 2007
  Debaixo das escadas
Uma vez há uns anos atrás perguntei-me de onde vinha a religião. E a religião, só pode vir mesmo de um sítio
(de dentro de nós)
. Uma vez há uns meses atrás perguntei-me o que é que queriam dizer os gestos. Os gestos são uma extensão das nossas verbalizações
(ou ao contrário, são a origem das nossas verbalizações, mas que existem com as verbalizações e são igualmente importantes
tanto quanto que quando me vendam os olhos eu não consigo ouvir
nem ver)
. Uma vez há uns dias atrás estava a apanhar o avião. Sentámo-nos lado a lado e
(“Que bom, que bom, vou regressar ao meu país” “Ai que saudades, que bom, que bom”)
ao nosso lado um cachopo de nove
(chamava-se Martim)
dez onze doze anos com muita vontade de meter conversa com os da frente
(“Álvaro, Álvaro” “Que é que queres” “Olha aqueles aviões” “Ai o caralho tu e a merda dos teus aviões”)
e como não o queriam, conversava com os do lado. Às vezes penso como as crianças são cruéis umas com as outras. E estares sentado perto de estranhos impele-te a cresceres e meteres conversa sobre aquilo que têm em comum.
Olhas para mim, avalias-me. Quem é que sou eu
(quem é que és tu?)
? Lês? Eu tenho um livro. Ouves música? Eu tenho um iPod. Quem és tu? E quando te perguntavas isso e eu nos escrevo não sei que responder, porque para isso tenho que saber quem sou eu. E talvez mais do que as minhas características físicas e emocionais eu seja aquilo que significo para as pessoas, num momento no tempo e ao longo do tempo e depois desapareço. Para ti signifiquei duas horas e meia e pronto.

Quando virámos na pista parámos e arrancámos o Martim benzeu-se agarrando a cruz que tinha ao pescoço
(Sou eu agora quem olha para ti, Martim, que fazes sabes o que fazes. Persignas-te. E estás protegido. Eu morro e tu não.)
Uma vez há uns meses atrás perguntei-me o que é que queriam dizer os gestos. Os gestos são uma extensão das nossas verbalizações
(ou ao contrário, são a origem das nossas verbalizações, mas que existem com as verbalizações e são igualmente importantes
tanto quanto que quando me vendam os olhos eu não consigo ouvir
nem ver)
. Mas o gesto era de protecção, mais do que um chamamento a uma divindade abstracta. Como não passamos debaixo de escadas.
 
fgautomatica@gmail.com | 'é necessário ter o espírito aberto, mas não tão aberto que o cérebro caia'
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