Fantástica Gramática Automática
Friday, October 27, 2006
  São Francisco e As Palavras do Profeta
Acabei por ver um filme, com um olho aberto e outro fechado. Pode não ter sido um dos filmes da minha vida, mas deixou um efeito prolongado bastante profundo
uso as palavras prolongado e profundo para tetradimensionar os efeitos do filme
e me voltou a fazer pensar sobre vários aspectos da minha vida. Supostamente os filmes que nos fazem pensar são aqueles que são bons, porque se cria uma via de dois sentidos
do filme para nós e de nós para o filme (embora este não nos ligue, ainda mais se foi realizado em mil novecentos e sessenta e sete.)
Mais do que ser um filme bem realizado, conta uma história sobre o vazio da vida após as graduações, sobre aspirações que se têm, que não te têm e a ansiedade acerca de um futuro que se aproxima galopante
embora nunca se saiba quando chega.
A banda sonora
parte muito importante do filme se não das mais importantes
é de Simon e Garfunkel. Podia estar a escrever isto noutro espaço
mas não escrevo porque não posso
é demasiado emocional, está demasiado perto de mim. Talvez tenha uma imagem excessivamente estereotipada, talvez me tenha identificado do que foram os estados unidos nos anos sessenta, da música e a Meca situada em São Francisco. Fiquei com vontade ir a São Francisco, ver a cidade, atravessar a ponte de Golden Gate e não sei que mais
porque não sei o que São Francisco tem que me atrai, não são os tremores de terra, há-de ser alguma que ainda não consegui imobilizar no pensamento.
Fica este registo, para memória futura.

The words of the prophet were written on the subway walls, é um dos meus versos preferidos das canções de Paul Simon. Tem uma cadência outonal que sempre encontrei nas canções dele e na sua relação com Nova Iorque. É uma cidade sempre fria e cinzenta
na Primavera também é cinzenta e fria.
Mas quando, nesta Lisboa de Outono, vazia de vida e amor, procuro palavras de consolo não as encontro nas paredes do metro. Encontro esparsos amores escritos a correctores e marcadores. Não há uma palavra de consolo
na rua a chuva chove por mim também
não há o que nos aqueça por dentro. Recebi um mail a dizer que na nossa vida deveríamos viver em Nova Iorque, mas não o suficiente para ficarmos duros, e em São Francisco, mas não o suficiente para ficarmos moles
isto é uma tradução livre muito aldrabada porque o mail era em inglês.
Para já, Lisboa.
 
Monday, October 23, 2006
  Ler poesia – segundo tratado de criatividade e ideias
Não sei ler poesia. Por muito que gostasse ou que seja uma actividade profundamente romântica não o sei fazer, nunca soube. Talvez uma ou outra coisa, algo que seja do conhecimento geral. Mas poesia que seja digna desse nome, nunca fui capaz.
O que é poesia?
Palavras e versos e estrofes e opus, epopeias, sonetos quadras, dísticos heróicos e que mais? Mas não é só isto, isto é a técnica, como manejar um pincel ou um cinzel ou uma rebarbadora ou uma régua, um esquadro ou um compasso de música numa pauta. Técnica. Ir buscar exemplos de pintura ou escultura seria sempre cair na tela ou na pedra, sem respeito pelos materiais, sem considerar a evolução modernista e pós-modernista.
Ao olhar para um poema, não consigo ter a mesma experiência sensitiva que tenho quando olho para outro qualquer sistema sígnico artístico, as palavras remetem para um universo que não sou capaz de penetrar com a mesma facilidade. Seja porque razão for, não sou capaz de ler poesia. Reconheço a beleza e a inteligência do processo de autores quando mos explicam. Mas não sou capaz de fazer esse exercício: fará de mim um mau académico não compreender, não conseguir des-cobrir as intertextualidades presentes naquilo que será sempre muito óbvio para um espírito treinado.

Há alguns anos atrás, quando comecei a escrever mais a sério, atirei-me à poesia. Escrever um livro era uma maratona demasiado longa para os meus pulmões de fumador e nunca tinha nenhuma ideia interessante. A poesia era mais fácil: juntavam-se palavras com desgostos de amor e ideias parvas de suicídio e lá se compuseram mais de cem poemas miseráveis em três anos (nos quais não se inclui a entrada anterior). Quando olho para trás e releio algumas das coisas que compus, até acho que algumas são boas, mas nunca poderão ser consideradas poesia; e porquê? Porque não foram compostas, porque foram escritas como um amador, como alguém que atira palavras ao ar, alguém que não tem a precisão de um atirador de facas. E deixei de escrever poemas.
Entretanto escrevi um livro e descobri que escrever um livro é muitas vezes uma maratona para quem tem pulmões de fumador.

Tive oportunidade de assistir a um dos últimos seminários de Manuel Gusmão. Reformou-se. Não que tenha compreendido sempre o que ele pretendia dizer, mais, acho que ele me compreendia melhor do que eu gostaria, assim como compreendia Rimbaud, Baudelaire e Victor Hugo. Lia esses poetas como quem bebe água, com a maior naturalidade e com a maior facilidade; da mesma forma com que falava de Godard, modernismo e Dalí. Para se poder ler poesia tinha que se ler como o Manuel Gusmão, ou então não vale a pena ler. Eu não sei ler.
Por isso os meus poemas não são poemas, porque nãos e podem ler através da spalavras, porque são ocos, são ampolas vazias.
Acabei sempre por escolher o caminho mais fácil, o do romance e de alguns contos para os quais tenho ideias sem confiar na inspiração, musa maldita dos amadores.
 
Friday, October 20, 2006
  Poema Poeirento
Gosto de alcatifas e dos ácaros que se escondem
Para fazer espirrar
Gosto das borboletas e dos buracos de ontem
Que as traças estiveram a ratar
Gosto de sacudir carpetes, especialmente as pequenas
Que estão à frente das retretes
O caracol levanta as antenas
Num gesto de lentidão
Trepa o muro da minha avó
Que arranja tripas e faz pão-de-ló.

Se a Adília aqui estivesse
Que orgulho! Que benesse!
Birncávamos com os gatos e cuspíamos pelo
Bolas grandes e pequenas que arranham a garganta
Mas como não está, não fico triste
E vou-me embora.
 
Tuesday, October 17, 2006
  Anormal
Estou a ler um romance que se passa no meu bairro. Não é bem no meu bairro, mas é tão perto que é quase como se fosse no meu bairro. Se o tivesse lido há dois anos atrás teriam sido apenas nomes a que atribuiria um qualquer lugar inventado em Lisboa: ou mais para Belém ou para Sacavém. Mas não, acabei na charneira desse bairro. Conheço as gaivotas e vi o enterro do homem dos dedos amarelos que o ácido corroeu. Isto porque estou a gostar de ver o meu bairro – que agora é meu porque também dele faço parte e dele me apropriei – escrito por um autor que não foi Nobel por uma unha. Pior, uma unha roída.
O bairro é entre Belém e Sacavém, mais para um lado do que para outro: sempre gostei mais de coisas tendenciosas do que equilibradas, são mais humanas. Desde que sejam tendenciosas a meu favor (esta roubei ao Bill Waterson).

Deste autor que estou a ler, muito se escreve e ainda há muito ou pouco tempo ele disse qualquer coisa como, “estou a deixar trabalho para os críticos durante quinhentos anos”
(paráfrase).
(E os críticos são os das universidades, não os das revistas ou Jornal de Letras. São os que definem o cânone, o sistema central do Even-Zohar.)

Mais que se escreve e diz é que ele é louco, o António. Eu gosto dele e reconheço que é uma pessoa perturbada, louca anormal.
(Já me disseram que escrevo como ele, mas julgo que sou tão merecedor desse elogio quanto a Margarida Rebelo Pinto é da sua própria comparação com Eça de Queirós. Não que eu seja como ela: antes parar de escrever a ser como ela.)
Portanto, o António é anormal. Anormal entendido como uma pessoa que não é normal. O conceito de normalidade é demasiado uniformizador, desde a adolescência até aos estudos universitários; mas como podemos considerar uma pessoa normal? Dotada de uma especificidade muito própria, de uma subjectividade, é impossível que haja alguém igual a alguém. Apenas alguém igual a ninguém. Há elementos de união, elementos de identificação comum, raças, credos, sexos, cidades, países. Todos aqueles elementos que os críticos agora estudam
(os das universidades e não dos jornais).
Identificamo-nos com pessoas, tentamos ser iguais, normais normalizados. Mas não somos. Carregamos em nós uma poderosa individualidade que nos distancia e nos aproxima dos outros consoante as situações.

Diálogo
PÓS-COLONIALISMO: E quem são os outros?
EU: Considerando o sujeito, todos aqueles que o não são. Ou seja, o resto do mundo é os outros para um sujeito. Mais, somos todos anormais, disfuncionais e cerebrais: com alguns acéfalos à mistura.
 
Wednesday, October 11, 2006
  O vendedor de livros
O título à partida sugere algo muito romântico. Não o romantismo de Júlio Dinis ou de outros que tais. O romantismo de algo belo, de uma fantasia colectiva, de algo que todos nós gostaríamos de experimentar pelo menos uma vez. Vender livros, conhecer livros, recomendar livros, sentir o cheiro dos livros. Os livros.
(Ainda me ocorre que o título pode ser tão belo quanto a Tenda dos Milagres do Jorge ou The Old Curiosity Shop do Charles. Mas não é: fica apenas como algo que poderia ser mas não é, uma fantasia que não passa disso.)
Acabei numa livraria a vender livros que não gosto e que não vou ler. E se os li, foi por acaso. Por estas e por outras é que já – e ainda tenho muito poucos anos – me acusaram de arrogância intelectual e me tentaram ofender com uma cuspidela falada: intelectual! Obrigado pelo elogio.

É, no entanto, bom poder estar no meio de muitos livros. Porque conhecemos mais ainda. Conhecemos aquilo que as pessoas querem ler e percebemos que as pessoas lêem aquilo que lhes dão para ler: há, por exemplo, editoras que se especializam em livros de conspiração contra deus, diabo, anjos e arcanjos. Mais, se tiver uma qualquer destas palavras escritas na capa, é sucesso garantido. Ou sexo: a vida sexual das rainhas que eram virgens, ou da Leonor Teles ou uma qualquer revelação bombástica que desvende segredos de alcova e comborças. Entenda-se que detesto a palavra “bombástica”, mas para o efeito não havia outra que caísse melhor no contexto; às vezes temos que nos sujeitar àquilo que o texto pede e não ao que pretendemos fazer dele.
Certo, mas se comecei no romantismo de trabalhar numa livraria, de ser vendedor de livros, não quero mostrar as facetas mais desencantadas: como a possibilidade de a curto prazo ter varizes.
Interessa que os livros são a razão pela qual eu tenho comida no prato e um passe para passear na zona 1 de Lisboa. Porque sendo Lisboa uma enorme metrópole houve a necessidade de criar duas zonas. Ainda que a segunda comporte apenas três estações de metro, entenda-se, Odivelas, Alfornelos e Amadora Este. E esta?, diria o saudoso!
Mas os livros são a minha razão de viver, pois sem eles passava fome.
Mas várias são as formas em que os livros passam na minha vida: etiqueto-os, desmagnetizo-os, embrulho-os, vendo-os. Nada mais. Já não olho para eles e as capas parecem sempre ocultar vazios que eu não quero ler. Li há dias, num blogue, que se tem que começar pelos clássicos e só depois os outros. No caso de pouco se viver, que venham só os clássicos. Está bem, venham os clássicos. Não que pretenda pouco viver, mas porque é por aí que devo começar. Não tenho, devo. Sempre fui muito bem mandado.

Mas a beleza de uma livraria podia ser o seu espaço. Um alfarrabista que sabe mais de livros que de amor. E eu que pouco se de um e nada sei dos outros. Apenas os preços, os descontos, os destaques e o top. E o leitor. Esse, desde que pague, até pode fazer a colecção da Enid Blyton aos trinta anos. Ou do Evelyn Waugh.
De lado ficam a Tenda dos Milagres com os riscadores e mestres de capoeira e The Old Curiosity Shop com um cheiro indizível, em detrimento de um centro comercial com ar condicionado.
 
Monday, October 09, 2006
  Histórias de amor de uma linha só
O nome da Rosa era assim porque tinha nascido numa madrugada de Primavera.

O Jacinto e a Margarida conheceram-se no mesmo jardim.
 
Friday, October 06, 2006
  O meu Outono interior
Oh, pedaço de mim/Oh, metade afastada de mim/Leva o teu olhar/Que a saudade é o pior tormento/É pior do que o esquecimento/É pior do que se entrevar/Oh, pedaço de mim/Oh, metade exilada de mim/Leva os teus sinais/Que a saudade dói como um barco/Que aos poucos descreve um arco/E evita atracar no cais/Oh, pedaço de mim/Oh, metade arrancada de mim/Leva o vulto teu/Que a saudade é o revés de um parto/A saudade é arrumar o quarto/Do filho que já morreu/Oh, pedaço de mim/Oh, metade amputada de mim/Leva o que há de ti/Que a saudade dói latejada/É assim como uma fisgada/No membro que já perdi/Oh, pedaço de mim/Oh, metade adorada de mim/Lava os olhos meus/Que a saudade é o pior castigo/E eu não quero levar comigo/A mortalha do amor/Adeus – Chico Buarque

Quando olho para esta letra, que quase soa a poema, que o Chico escreveu, sinto que não preciso de mais palavras. Mas às vezes temos que fazer da nossa fraqueza força e empurrar as lágrimas para dentro. O meu Outono começou quinze dias depois. Não foi duas semanas depois, quinze dias. Com cada hora e cada minuto. Foi a desfolhada que caiu com o vento da noite anterior para a manhã de hoje. Acordar com a janela aberta quando me lembrava de a ter fechado. Mas interessa isso para quê? Interessa que o Outono realmente começou. Regressava no carro e dizia ao V. e à M.V. que o Outono é um período de renovação, que é uma boa altura para trocar de pele, para começar coisas novas. Física, biológica e espiritualmente. Depressa a conversa resvalou para o que as pessoas gostam e não gostam nas determinadas estações do ano. Mas interessa mesmo? Não, claro que não.

Não me alongo nem me estendo, na cama ou nas palavras. Tenho sono e estou cansado, tenho sentidos e sentimentos mas não os consigo escrever. Faço-o pelas palavras e música de outros, melhor forma que consegui, até agora, para me expressar. Talvez se soubesse tocar um instrumento, se soubesse manejar as minhas mãos, que não fosse apenas para carregar uns botões num rectângulo à minha frente. Fica para uma próxima vez, daqui a um dia ou dois, quando achar que o Outono é uma coisa boa e quando já tiver feito as pazes com as folhas castanhas dos plátanos que não foram cortados no largo em frente à minha casa. Até lá fica a canção do Chico a ressoar na minha cabeça e por mais que tente que ela não esteja, está. E talvez nem eu queira que se vá. Fica assim, triste. Vá, não custou muito, já está.
 
Wednesday, October 04, 2006
  Crucificação segundo Eça de Queirós
Ergui os olhos para a cruz mais alta, cravada com cunhas numa fenda de rocha. (…) Aquele corpo que não era de marfim nem de prata, e que arquejava, vivo, quente, atado e pregado a um madeiro, com um pano velho na cinta, um travessão passado entre as pernas – encheu-me de terror e de espanto… O sangue que manchara a madeira nova enegrecia-lhe as mãos, coalhado em torno aos cravos: os pés quase tocavam o chão, amarrados numa grossa corda, roxos e torcidos de dor. A cabeça, ora escurecido por uma onda de sangue, ora mais lívida que um mármore, rolava de um ombro para o outro docemente; e por entre os cabelos emaranhados, que os suor empastara, os olhos esmoreciam, sumidos, apagados – parecendo levar com a sua luz, para sempre, toda a luz e toda a esperança da Terra…

Excerto retirado de: QUEIRÓS, Eça (1967). A Relíquia. Lisboa: Edição Livros do Brasil (p. 191).
 
Sunday, October 01, 2006
  Hora Crepuscular
É sempre naquele momento do dia. Mas o dia pode ser dividido em infinitos momentos, da mesma forma que uma circunferência contém infinitos pontos. Porque a duração do dia pode ser dividida em todas as fracções que pretendermos e mesmo assim haver mais para dividir. Pode ser aquilo que nós quisermos. Desde que o queiramos.
O casal, à distância de alguns centímetros, toca-se apenas com a língua e as mãos dele nas mamas dela e as mãos dela na pila dele.
Dois miúdos, com camisolas de tamanho bem maior que o corpo magro arriscam uma amputação na porta do autocarro.
A mãe que carrega o filho deficiente e se zanga com os filhos das outras que arriscam as mãos na porta do autocarro.
Velhas queixam-se da vida e velhos cheiram a mijo.
Entre os solavancos a vida vai avançando e é um mistério. O autocarro também avança e está já escuro porque há a sombra que os prédios fazem. Numa ponte por cima de um viaduto com as bermas cheias de lixo, entre dois prédios de tantos andares o sol poente amarelo entra pelas janelas grandes do autocarro.
Nesse momento, nesse instante que durará apenas alguns segundos, que será uma longa divisão do dia, todas as pessoas são bonitas. Ficam em tons de ocre e amarelo, ficam bonitas. As pessoas em silêncio, com o ronco do motor e a borracha no alcatrão.
Volta a sombra dos prédios e o barulho das pessoas.
 
fgautomatica@gmail.com | 'é necessário ter o espírito aberto, mas não tão aberto que o cérebro caia'
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