Fantástica Gramática Automática
Wednesday, July 26, 2006
  Ler escrever homem mulher
(Está calor. Não é novidade. Enquanto escrevo a gelatina que tenho num copo derrete e já não a vou poder comer. Era de morango. Digo era porque acabou a escorregar lava-loiça abaixo enquanto eu maldizia a minha distracção.)

Encontrei um gancho na minha cama. Sabia de quem era, não partilho a cama com mais ninguém. Os pecados de que falava não são nada comparados com o pecado de não estar contigo. Fiquei a olhar para o gancho e usei-o como marcador de um livro. Um dia ainda o hei-de perder na mochila ou na rua, mas não interessa. Caímos na cama sempre com tanta pressa que antes de voltar a voar ainda encontro outro. Não encontrei outro nem perdi aquele que encontrei. Há dois dias que o pousei no banco onde vou amontoando livros.
Mas vou mesmo voar. Amanhã, antes quando não houver sombra em Lisboa aterro em Paris.
Há pouco menos de um ano, quando cheguei de Berlim, li uma crónica da Clara Ferreira Alves sobre as férias de Verão: ironizava com o facto dos portugueses aproveitarem as férias de Verão para ler e escrever. Ela fazia ao contrário: aproveitava as férias de Verão para não fazer nenhuma das duas, já que passava o resto do ano a fazê-las para se poder sustentar. Achei graça e quis ser como ela. Na altura, pretensão de ser escritor era ainda maior e achava que por esta altura já o seria. Nem por isso.
Faço das tripas, tripas e do coração, coração. Passei o resto do ano a ler pouco e a escrever pouco. Não me dediquei ao trabalho como defendo que deve ser com as grandes obras. Vou passar o Verão a ler e a ler e a ler e a escrever e a escrever. Não me custa: não me faltam ideias para retomar o trabalho, o mesmo que começou em Outubro de dois mil e quatro. O processo é longo eu sei. Pelo menos, agora sei.

Voltei a lembrar-me da frase do Paul Theroux. Não me pretendo perder nem encontrar numa paisagem estranha. Não procuro o outro nem estou com questões de identidade. Não procuro o isolamento para escrever, isso só me rouba ideias, preciso das pessoas.
Vou porque quero devolver o gancho a quem pertence. Falo tanto de amor, neste blogue. Odeio o verbo, já disse, mas adoro o conceito. Estão então explicadas as razões da minha ida. Por amor.
A felicidade é uma unidade de tempo relativa. Mais relativa que o momento ou que a imobilidade fotográfica. Vou para ser feliz.
 
Tuesday, July 25, 2006
  Diversificar
É só de vez em quando. E não escrevo sozinho. Agora também escrevo aqui: Pontofinal.Parágrafo.
 
Sunday, July 23, 2006
  Antónimos
Fiquei a pensar na questão do número sete. Para haver um equilíbrio tem que haver uma facção oposta. Não isto pensando numa dialéctica, mas deixo muito claro, que para estar a falar de uma dialéctica aquilo que estou a falar é meramente teórico. Do meu ponto de vista, e opinião – e ainda hei-de escrever algo sério sobre isto –, a dialéctica só é possível na abstracção, uma vez que na realidade não há apenas dois elementos que se opõem, há uma maior quantidade de sistemas que interagem através de relações de poder (e dou por bem empregue a teoria dos polissistemas de Even-Zohar).
Adiante.
Pensando em oposições, fiquei a pensar que para cada maravilha do mundo haveria um horror. Mas ocorreram-me tantos, que a relação me pareceu imensamente desproporcionada. Não deixa de ser engraçado, que há muito mais coisas horrorosas no mundo que belas e, no entanto, nós continuamos a dar muito mais valor às coisas belas e delas nos recordamos.

Dias mais tarde à discussão sobre os sete pecados capitais e as sete maravilhas do mundo, a minha avó disse-me que por cada pecado capital havia também uma virtude. Sabia os pecados, mas não sabia as virtudes. Eu também não. Disse-me: parece impossível, um menino tão educado a não saber essas coisas. A minha avó desculpou-se dizendo que já estava velha e não se lembrava. Fui diligente e fiz os trabalhos de casa. Descobri a as sete virtudes. Que existem por exacta oposição aos pecados.
Generosidade – Avareza
Abstinência – Gula
Caridade – Inveja
Paciência – Ira
Simplicidade – Luxúria
Diligência – Preguiça
Humildade – Soberba

Já tinha discorrido sobre os pecados e aqueles que tinha cometido ou não. Agora discorrer sobre as minhas virtudes ia ser muito feio. Deixo isso para outros. Não ouso.


[Encontrei um gancho na minha cama. Sabia de quem era, não partilho a cama com mais ninguém. Os pecados de que falava não são nada comparados com o pecado de não estar contigo. Fiquei a olhar para o gancho e usei-o como marcador de um livro. Um dia ainda o hei-de perder na mochila ou na rua, mas não interessa. Caímos na cama sempre com tanta pressa que antes de voltar a voar ainda encontro outro.]
 
Thursday, July 20, 2006
  maciço
desde há muito tempo que não me sentava ao computador para escrever sem ter uma ideia formada daquilo que iria sair ou das ideias que queria explicar ontem fui jantar fora com uns amigos belgas que cá estão a passar uns dias e disseram-me que estava muito distraído parece-me natural tinha passado o dia em frente ao computador a tentar escrever um ensaio que ainda só vai por metade estava cansado queria trabalhar mais à noite mas bebi muito vinho e vinha com sono fui-me então deitar com o livro no regaço não é bem bem assim porque eu leio de barriga para baixo porque o livro que estou a ler é pior que uma telenovela prende mesmo acho que foi por isso que deixei de ver televisão achava ridículo condicionar a minha vida por um cubo condicionei-a no entanto por uma esfera quando estava a dar o mundial de futebol hoje apetece-me usar palavras curtas e verbos fáceis porque tenho que guardar os difíceis para daqui a mais um bocadinho altura em que vou ter que fechar este documento e a internet e pôr o telemóvel no silêncio para me conseguir concentrar as manhãs são sempre um sarilho porque passo em revista os blogues de todas as pessoas que conheço e não conheço mais aqueles que gosto ler mas enfim é mesmo assim são as nossas pequenas doses diárias recomendadas de leitura mais o livro mas não é só isso também gosto de escrever de manhã porque posso escrever sobre os sonhos embora não tenha sonhado muito ultimamente também não tenho dormido muito bem o que trabalhar é outro sarilho agora que aceitei escrever para outro blogue tenho mais uma responsabilidade quem tem pretensões de escritor é assim tudo o que relaciona com a escrita é uma responsabilidade do tamanho do mundo foi assim que eu escolhi e apesar de tudo só neste ponto deste texto é que posso dizer isto porque está a ficar tão denso que duvido que as pessoas passem das primeiras dez linhas vai ficar tão confuso de ler acho que posso também dizer que para quem tem pretensões de escritor ter um blogue e cuidar dele não é nada que qualquer pessoa não esteja disposta a fazer o que mais afronta a minha arrogância são os blogues de pessoas que não sabem escrever e só escrevem cocó e tem o dobro o triplo das visitas que eu tenho ai que fico mesmo chateado ainda tentei encontrar algum padrão mas o único nome que me lembrava era o daquela escritora anoréctica que está sempre a aparecer na caras a apresentar um livro e até já escreve crónicas para o jornal do metro agora que isto está mesmo no fim ainda não mas quase já sei o que vou fazer vou tirar todas as letras maiúsculas e toda a pontuação e quem conseguir compreender tudo quem conseguir chegar ao fim e esboçar um sorriso é porque se dedicou quem não conseguir chegar ao fim não me importo eu acho que não me dava ao trabalho agora é que é fim e se depois tirasse os acentos e depois as vogais é melhor não fica assim agora é que é o fim
 
Monday, July 17, 2006
  Ser construtivo
Sete é um número místico. Sem dúvida, desde a antiguidade que há coisas que lhe estão ligadas sem que nós consigamos perceber porquê. O papá que é professor de matemática começaria por dizer que é um número primo e que o conjunto dos números primos é muito interessante, porque não se consegue perceber se é finito ou infinito e que ainda não se conseguiu encontrar uma sucessão capaz de os determinar a todos. Eu também começo pela matemática, nem que seja para deixar essa parte já resolvida.
Sempre houve uma magia qualquer que envolveu os números. Também gosto de números, especialmente de números primos e especialmente do sete. O três também, mas hoje estou virado para o sete.

Discutia religião com alguém. Isto pode dar a entender que a minha vida é interessante e que tenho sempre imensas pessoas interessantes com quem discutir tópicos interessantes e chegar a conclusões interessantes. Certo é que acabo sempre por discutir com pessoas que estão nos extremos da baliza, ou fundamentalistas católicos ou ateus convictos com uma aura de misticismo cartomântico. E eu que gosto de discutir pelo prazer da argumentação.
No seguimento da discussão, disse que achava que saber os pecados mortais era um desperdício de memória e que provavelmente já os tinha cometido a todos. Enumeraram-mos de seguida, abanando a cabeça como se eu não soubesse a mais óbvia das coisas. Mentalmente revia aqueles que tinha cometido e aqueles que não.
Avreza, não; gula, sem dúvida; inveja, não; ira, é possível, mas não me lembrei de nenhuma ocasião; luxúria, sem comentários; preguiça, é recorrente; soberba, o meu pior defeito. De sete ter cometido cinco, deve dar direito a morrer cinco vezes. Devo ser gato, sobrevivi a todos. E ainda me posso dar ao luxo de morrer mais duas vezes.

Com o meu ar mais blasé, respondi que achava ser muito mais importante saber as sete maravilhas do mundo do que os sete pecados mortais. Naturalmente pediram-me para as enunciar, confiando que eu as não sabia,
Colosso de Rodes, Estátua Olímpica de Zeus, Farol de Alexandria, Jardins suspensos da Babilónia, Mausoléu de Halicarnasso, Pirâmides de Gizé, Templo de Diana.
(Na altura enumerei apenas seis, tenho sempre problemas com o Mausoléu de Halicarnasso.)

Ainda fiquei a pensar noutra coisa. Não remontarão as sete maravilhas do mundo à antiguidade clássica, antes de qualquer um dos testamentos? Ou seja, não deveria ser algo que por obrigação cultural nós devêssemos saber melhor que os pecados que cometemos?
É impossível ter uma conduta perfeita. Kant defendia isso no seu livro A Fundamentação da Metafísica dos Costumes: as nossas acções até podiam ser boas, mas se as não fizéssemos com o nosso coração [aqui a expressão ‘coração’ é minha] não seriam boas acções. Dependendo das nossas crenças pessoais, seremos julgados na terra ou num plano metafísico.
De qualquer das formas acho muito mais construtivo saber sobre a beleza do que sobre o pecado.
 
Tuesday, July 11, 2006
  Conhecidos, velhos e novos
Talvez soubesse, mas julgo que não. De certeza que não; porque simplesmente não me ocorreu. Tinha uma sensação de desconforto no estômago quando publiquei a entrada anterior, mas julguei que assim fosse devido à proximidade emocional do assunto.

[Aproximaram-se de mim hoje e confrontaram-me com uma afirmação que tinha feito meses antes: deixei de lado a escrita emocional. Mas toda a escrita é emocional. O que eu pretendia com isso dizer era: deixei de pôr em jogo a minha sanidade emocional e pessoal para ter um leit motif para escrever. Porque toda a escrita é emocional: eu, pelo menos, sinto-a.]

Mas voltando à proximidade emocional. E aqui param as mãos. É possível explicar as coisas que não têm explicação? Porque quero eu resgatar uma amizade construída com Legos? Não quero responder a essa pergunta, mas é tão óbvia para mim a resposta.
Tentei olhar para o passado e encontrar o momento da separação. Não houve propriamente uma separação, um momento marcado e fixo. Mesmo numa cidade pequena a distância entre duas escolas é grande. E entre as nossas casas. Mesmo sendo os nossos pais irmãos.
Crescemos em direcções diferentes e não cultivámos os anos que não estivemos constantemente juntos. Quando nos voltámos a juntar não nos reconhecíamos. E cada vez mais e mais e mais e somos estranhos, apesar de nos conhecermos desde 1984, ano em que ele nasceu.
Ando à volta com justificações, mas simplesmente não as há. Há. Eu é que não quero escavar tão fundo em mim, com medo de encontrar culpa em mim se o fizer. Será mais fácil deixar a que a situação se arraste e eu vá esquecendo que ele existe até aos momentos dos pequenos encontros ou será até mais fácil culpá-lo de tudo, assumindo que a direcção certa era a minha.

O facto de estar a fazer algo profundamente emocional e doloroso impede-me de ser desonesto. A culpa é repartida em dois. Porque, nas minhas palavras, esse olhar de desprezo não é tão diferente da arrogância a que me votei afirmando taxativamente que sei que não é feliz. Até pode ser verdade que o que faço é desprezível e até pode ser verdade que ele não seja feliz. Mas também podem ser verdade os seus opostos.
Pauso na escrita porque incorro no perigo de o encher de culpa de alto a baixo. Pauso porque quis reler tudo o que estava para trás.
Tantos rodeios e novecentas e sessenta e duas palavras para dizer ao meu primo que gosto muito dele, que quero que ele seja feliz, que me magoa que ele não faça um esforço para compreender o que me faz feliz, que me magoa que já não sejamos próximos, que a culpa também é minha, que não se apagam vinte e dois anos de amizade, que ele pode sempre contar comigo. E já agora que ele soubesse disto.

Vou ter que ser eu a dar o primeiro passo, não é? Não sei se tenho coragem.
 
Monday, July 10, 2006
  Velhos conhecidos
Round and round, up and down/Through the streets of your town
O pretexto foi a visita ao papá e à mamã e um parafuso espetado na roda de trás do lado esquerdo do carro. Ou seja, durante a semana tinha estado frio e eu tinha decidido voltar a tirar as mantas quentes. E no dia em que tenho que fazer a viagem de quase três horas no meu carro preto fica um calor abrasivo que me faz beber um litro e meio de água em três horas de viagem. Fui de Lisboa a Portalegre.
Chegado a casa dos papás fui levar a mamã a passear e furei uma roda, tal foi que passei o fim-de-semana a andar a pé. Não é mau, estava um calor bom de noite. Agora é que entra o tal verso,
Round and round, up and down/Through the streets of your town
porque estava a fazer o caminho que costumava fazer quando ia para a escola, o caminho que fiz durante seis anos. E isso é bom para reflectir, como diz o Paul Theroux, Nothing induces concentration or inspires memory like an alien landscape or a foreign culture. It is simply not possible (as the romantics think) to lose yourself in an exotic place. E caminhei numa cidade que já não entendo como casa. Ou pelo menos como lar; uma perspectiva de estranhamento. A mesma diferença que a língua inglesa faz entre “house” e “home”. Não interessa, porque este regresso coincidiu com algo que me tinha acontecido no metro dois dias antes, ou um dia antes ou na semana anterior. Não interessa, partiu-me o coração.

Ia no metro, a cabeça perdida, a música nos ouvidos a antecipar uma tarde na biblioteca. Saímos na mesma estação e não me tinha visto. Eu não tinha a certeza. Dos tempos de Portalegre, ele que em tempos tinha sido o meu melhor amigo. Abeirei-me e disse olá; não pareceu surpreendido por me ver, dissemos umas palavras de ocasião, eu fui pesquisar sobre fotografia e ekphrasis e ele foi fazer um exame de qualquer coisa relacionada com farmácia.
Que nos apartou tanto?
Somos e fomos em opostos, mas isso nunca teve influência em nada. Vi ali alguém em quem confiei muitas coisas a olhar-me de cima – quanto custa esse olhar de desprezo – e a desdenhar daquilo que eu faço. De melhores amigos passámos a conhecidos de ocasião e mentimos nas festas de família. Às vezes detesto-o, outras vezes tenho pena dele, porque sei que não é feliz. Acabámos em pólos opostos em quase tudo: academicamente, pessoalmente, emocionalmente. E muitas mais palavras terminadas em –mente.

Agasta-se-me o coração que quer sair de mim, dizia a Ama do “Auto da Índia”. A mim também. Recordo do que me disseram, ‘Não podes estar de bem com todas as pessoas do mundo nem esperar que todas gostem de ti’. Se calhar o mal é esse mesmo, não ter que ter a necessidade de estar bem com todos. Se estiver bem comigo – que lugar-comum mais foleiro, mas agora não me lembro de outra expressão – o resto vem por acréscimo.
Felizmente tive os passeios em Portalegre que me proporcionaram espaço mental para reflectir. Gostava que o Filipe lesse isto. Talvez ficasse com alguma ideia daquilo que lhe quero dizer e ele nunca quererá ouvir.


Verso inicial de Streets Of Your Town, The Go-Betweens.
 
Thursday, July 06, 2006
  Poesia da Maria
O papá e a mamã bem queriam engenheiros, gestores e médicos. Se havia coisa que os filhotes tinham era criatividade. Em proporções e com expressões diferentes, mas a verdade é que o papá e a mamã achavam tudo uma gracinha, desde que não passasse de uma brincadeira. Sabiam que se passasse da brincadeira íamos ter sérios problemas.
Passou da brincadeira e ninguém teve sérios problemas, gostamos todos muito uns dos outros e até somos felizes.

A história começa quando fui almoçar com uma amiga minha que me tinha pedido para lhe dar um parecer sobre um conto que tinha escrito. Eu disse-lhe que daria a opinião a título pessoal, mas nunca académico, que não sei fazer coisas dessas. Entre as várias coisas que disse, notei que havia uma enorme proliferação do verbo amar. Gosto muito do conceito e amor e uso-o muitas vezes, mas detesto o verbo amar em todas as suas conjugações. Disse-lhe isto, mas ressalvei que isso era uma questão muito pessoal, que nada tinha a ver com o conto.
Horas mais tarde contei à minha irmã. Ela sorriu e disse qualquer coisa. Depois escreveu,


Como fazer um texto que agrade ao meu irmão abusando do verbo amar

A caneta e o teclado amam o meu irmão.
Os críticos literários estão completamente rendidos a esse tipo.
Os críticos amam o meu irmão,
Os editores amam o meu irmão.
O Lobo Antunes ama o meu irmão.
E o contador de visitas do blog ama o meu irmão.

E porque o dinheiro não trás felicidade mas ajuda muito
O euromilhões e o totoloto amam o meu irmão.
Um jaguar entregou-se-lhe com a chave na ignição
Porque ama o meu irmão.
E veio também um avião, já com piloto na cabine.
Disse: não te amar é um crime.
Onde queres ir? Toca a subir!

O amor ama o meu irmão porque S. o ama.
E se calhar é para sempre, o que conta muito.
Nunca é certo, mas amam-se na mesma.
Amam-se com toda a audácia.

E se o meu irmão é amada pela incerteza.
Também o é pela certeza.

Por todos, enfim,
E também por mim.
Do original.
 
Tuesday, July 04, 2006
  'Love Aquatic'
Podias ser um querido e ir buscar um copo de água à tua menina.
Amas-me?
Tanto.
Como?
Quando não estás fico assim com uma espécie de sede.

Retirado de Estranho Amor [19.05.2006]
 
Monday, July 03, 2006
  Um dia fora de casa
Hoje vi muitas pessoas. É o que acontece quando se sai de casa. Vêem-se pessoas. Estava encostado a uma parede. Passou por mim um rapaz, olhava para muitos lados e foi por um corredor. Voltou passado nem um minuto e foi na outra direcção, parecia perdido. Sinto-me assim tantas vezes, perdido.

No meio de uma conversa com desconhecidos dei por mim a dizer que não pertencia a grupos nenhuns. Crise de identidade, perguntaram. Provavelmente, desde que nasci. No entanto já não me esforço por pertencer a coisa nenhuma. Sou arrogante a esse ponto.
Mas às vezes gostava de pertencer.

O motivo mais recorrente da minha escrita é ela própria. Acabo sempre por reflectir sobre o processo criativo, especialmente sobre aquilo que já foi e não é. Dou imensas voltas e acabo sempre no mesmo lugar, na falta de criatividade a que sou sujeito. Talvez não seja a falta de criatividade, mas a falta de método que me impede de levar o processo que tanto defendo até ao fim. Tive uma ideia para um conto.
Começava,
Era uma vez um velho que era moço de estrebaria… E não passou disso. Já não quero esta ideia. Porque hei-de chegar a velho e ainda ser moço de estrebaria porque preferi dormir me cima da palha, no meio da merda, a fazer algo para mudar a minha vida. É por isso que já não quero a ideia, é-me demasiado íntima.
Porque me disperso no que se passa à minha volta, especialmente no tempo que vejo fazer através da minha janela e daquilo que vejo através dela. E a partir daí.
Mas hoje saí de casa e vi pessoas. Vi um rapaz que estava perdido e conversei com desconhecidos.

Um dos meus maiores medos é que descubram que eu estou perdido. Um dos meus maiores medos é que descubram que tenho medo. O rapaz que hoje observava enquanto fumava um cigarro encostado a uma parede ao lado de um cinzeiro tinha medo de estar a ser observado. Da mesma forma que eu tenho. Percebia-o nos seus gestos, na forma como tentava parecer seguro, na forma como depois voltou para trás de cabeça baixa, envergonhado e humilhado. Também a mim me aconteceu e acontece, por isso sabia que estava perdido. Não só no edifício. Nunca diria isto verbalmente, mas a escrita no blogue permite-me a dualidade da veracidade do discurso. E da mesma forma que eu o observei, tenho medo que alguém me tenha observado e me tenha registado. Como um moço de estrebaria que há-de chegar a velho como moço de estrebaria.

Duas horas depois de ter estado com os desconhecidos tive que regressar. Tinha-me esquecido do relógio. Disseram-me, tu não és normal. A melhor resposta teria sido, tu também não, mas não me apetecia entrar numa discussão da metafísica da normalidade. Sorri aos desconhecidos que possivelmente nunca mais verei e respondi que encarava isso como um elogio. Desprovido de arrogância e a transbordar de pretensão.
Depois disse boa noite e vim-me embora.
 
Saturday, July 01, 2006
  I'll Shoot The Moon
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I'll shoot the moon/Right out of the sky/For you baby/I'll be the pennies/On your eyes/For you baby/I want to take you/Out to the fair/Here's a red rose/Ribbon for your hair/I'll shoot the moon/Right out of the sky/For you baby/I'll shoot the moon/For you/A vulture circles/Over your head/For you baby/I'll be the flowers/After you're dead/For you baby/I want to build/A nest in your hair/I want to kiss you/And never be there/I'll shoot the moon/Right out of the sky/For you baby/I'll shoot the moon/For you

Tom Waits in The Black Rider [1993]
Pintura de Sean Griffin.
 
fgautomatica@gmail.com | 'é necessário ter o espírito aberto, mas não tão aberto que o cérebro caia'
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