Fantástica Gramática Automática
Wednesday, December 26, 2007
  Da vida como é ou como acontece
É fácil criar um blogue, serve para muitos propósitos. Para dizer mal, para dizer bem, para dizer. Para dar voz a quem a quiser ter
(e quem puder pagar a ligação do telefone e internet mas hoje em dia já nem isso tem precisão que em quase qualquer lado se encontra um serviço que faculta internet gratuitamente)
. Arranham-se um, dois, três vitupérios e upa!, está feito, usou-se o blogue e agora fica, posta restante na cauda do intocável, imerecido desaparecido.
O espaço virtual é infinito, talvez por isso se chame espaço. Tal como o espaço que existe à nossa volta cujos limites desconhecemos
(isto tudo para me limpar de um desaparecimento de quase dez dias que teve origem com a conjunção de um espelho e uma noite de copos que não existiram porque isto é tirado de um conto do borges. foi do trabalho do gás cortado e do amor que existiram em medidas e lugares e quantidades diferentes foi bom mas fiquei com um peso na consciência agora que eu me preparava para escrever algo maquiavélico sobre nietzsche mas como em mim sei que não tenho que prestar contas a ninguém que devo estar para além do bem e do mal não me importa que sobre nietzsche fique para outra altura)
.
Haveria necessidade de explicação? Porque escrever não é só escrever, de cada palavra retira-se do produtor do blogue o seu perfil, a sua figura, a sua leitura e audição, a sua visão e tacto. Criam-se pessoas reais partindo daquilo que elas escrevem. Justificar um desaparecimento de dez dias é dizer, que também preciso de espaço, é dizer bom natal, bom ano, bom carnaval, boa páscoa. É querer bem àqueles que nos lêem
(podia até ter a modéstia de acrescentar se tivesse quem me leia mas sei que tenho não visito o meu próprio blogue de vinte computadores diferentes por dia)
. Não escrevo por escrever, ainda que por vezes me pareça a coisa mais natural a fazer. Escrevo porque gosto e ao mesmo tempo é uma actividade extremamente dolorosa
(porque está na nossa natureza sermos cruéis e se o não formos com outros acabaremos por sê-los com nós próprios)
.Também não por catarse. Escrevo para ser lido, mas não para angariar leitores
(porque se o quisesse sei que o conseguiria da mesma forma que o já fiz em tempos e depois tudo foi mudando naturalmente que se foram embora todos com os seus comentários e ficaram aqueles que queriam ler e que percebiam. a esses que me lêem a vários níveis foi tempo sabático)
e comentários, porque me lê quem quiser.
Amanhã talvez volte às diatribes nietzschieanas. Tudo de bom.
 
Tuesday, December 18, 2007
  Escravatura do amor
(ele) Eu te adivinhava
E te cobiçava
E, te arrematava em leilão
Te ferrava a boca, morena
Se eu fosse o teu patrão
Aí, eu tratava
Como uma escrava
Aí, eu não te dava perdão
Te rasgava a roupa, morena
Se eu fosse o teu patrão
Eu te encarcerava
Te acorrentava
Te atava ao pé do fogão
Não te dava sopa, morena
Se eu fosse o teu patrão
Eu encurralava
Te dominava
Te violava no chão
Te deixava rota, morena
Se eu fosse o teu patrão
Quando tu quebrava
E tu desmontava
E tu não prestava mais não
Eu comprava outra, morena
Se eu fosse o teu patrão

(ela) Pois eu te pagava direito
Soldo de cidadão
Punha uma medalha em teu peito
Se eu fosse o teu patrão
O tempo passava sereno
E sem reclamação
Tu nem reparava, moreno
Na tua maldição
E tu só pegava veneno
Beijando a minha mão
Ódio te abrandava, moreno
Ódio do teu irmão
Teu filho pegava gangrena
Raiva, peste e sezão
Cólera na tua morena
E tu não chiava não
Eu te dava café pequeno
E manteiga no pão
Depois te afagava, moreno
Como se afaga um cão
Eu sempre te dava esperança
D'um futuro bão
Tu me idolatrava, criança
Seu eu fosse o teu patrão
Mas se tu cuspisse no prato
Onde comeu feijão
Eu fechava o teu sindicato
Se eu fosse o teu patrão
(chico buarque)
.
Ou como as mulheres são mais requintadas que os homens. Nietzsche que me perdoe, mas em relação aos aos homens e mulheres ele não tinha tacto nenhum
(porque por muito engraçado que seja lê-lo não conseguia perceber que o facto de considerar que as mulheres eram inferiores era pactuar com algo que a religião e consequentemente a moral faz ao longo dos séculos. diminuir a mulher)
.
 
Monday, December 17, 2007
  As ideias antigas
Uma imagem até pode valer mais do que mil palavras; mas uma só palavra vale infinitas palavras
(pelos campos semânticos de despoleta)
. Esta precisava de uma explicação mais alongada, mas fica só assim. Estou com muito sono.
 
Wednesday, December 12, 2007
  O Verbo: ler
Desde há muito tempo que me debato com a mesma dúvida
(e são tantas sem nunca chegar a uma solução a minha incapacidade crónica de tomar um partido de aceitar argumentos de ambas ou mais partes mas sem nunca me comprometer com nenhuma mantendo uma posição de superioridade indecisa como se todas as respostas e possibilidades residissem em mim e por isso eu não tinha que fazer opções apenas tê-las)
, sem nunca conseguir chegar a uma conclusão. Mas tem mesmo que haver uma conclusão? Ou posso ficar apenas com o meu ponto de vista? O problema reside na impossibilidade de eu optar por um ponto de vista, eliminando todas as outras possibilidades
(porque conclusões não existem são tão positivistas quanto as definições)
.
O chavão: os portugueses andam a ler mais. Isso é óptimo? Até seria seria se os portugueses fizessem alguma ideia daquilo que deviam ler
(perigosa esta afirmação uma assunção do conhecimento canónico ou emergente e a presunção de que está em mim o poder de decisão daquilo que as pessoas devem ou não devem ler mas não posso deixar de pensar que livros sobre anjos santos e predições do futuro não serão a leitura mais recomendada)
. Será melhor ler qualquer coisa ou não ler? Tal como a maioria das dúvidas que fui criando, acariciando e nutrindo ao longo do tempo esta foi uma das mais complicadas e das mais difíceis. Ainda sem uma solução ou uma conclusão, arrisco uma opinião pessoal em duas partes
(uma das razões que levas as pessoas a ler é o exemplo que em crianças têm dos mais velhos uma criança que viu os pais os educadores a ler inconscientemente fica com a ideia de que as pessoas que lhe são de referência retiram prazer da leitura e ela própria há-de querer experimentar para também poder retirar prazer desse acto)
;
(os livros esotéricos que falam de cartas anjos santos demónios crenças seriam à partida uma leitura não recomendável. uma das funções destes livros além da inalienável função do livro é modificar padrões de comportamento e matrizes de pensamento de forma mais ou menos explícita. alterar a matriz de pensamento é alterar a estrutura na qual assenta uma pessoa e na qual se baseiam todas as decisões nesse sentido o sujeito fica com duas opções a anterior e a presente. nesse sentido é mais livre porque independentemente do conhecimento adquirido tem a possibilidade de saber mais e ver observar de mais perspectivas. se essas perspectivas são boas ou más é um juízo de valor moral e intelectual da matriz individual de quem executa o juízo)
. Sim, as pessoas devem ler. E se não for para o seu próprio bem, para o bem dos seus precursores.
 
Monday, December 10, 2007
  Quando o homem quiser
Eu sei que devia escrever. Eu sei que há já alguns dias que devia escrever
(as dores que deviam ser apenas do corpo passam para outro lado e neste momento até quase carregar nas teclas é doloroso não pelo toque mas pela tarefa que há dias devia ter sido completada para dar início a outra)
. Escrever é uma obrigação auto-imposta, um treino intelectual, um aprisionamento de ideias, um roubo ao seu infinito conceptual e finitude quantitativa
(e vai assim)
.
O dia é quando o homem quiser. A mulher não manda
(foi sonegada e silenciada e o agá grande só aparece para que a mulher não fique fora da equação metalinguística porque quando estamos a falar ninguém sabe se é grande ou se é pequeno e a palavra que lá está o campo semântico com que se relaciona é o masculino é uma forma politicamente correcta mas etimologicamente e culturalmente ofensiva. é a forma inicial e acabada da tentativa do homem abafar a mulher e o grande ou pequeno servem apenas para iludir, como um mago com as cartas marcadas. tal como regras gramaticais em que basta haver um homem entre mulheres para se tratar todos no masculino. regras morais e religiosas que cresceram da imposição dos homens sobre as mulheres regras criadas sobre a capa da moral que se transformaram em verdades absolutas e universais. que é senão a justiça que um conceito religiosamente inspirado a igualdade o sofrimento a martirização a abnegação o despojamento tudo aquilo que valorizamos como valores laicos são valores religiosamente derivados que acabámos por tomar como verdades absolutas e princípios de conduta)
nos dias que são nem nos que hão-de vir. O natal é quando o Homem quiser
(ou homem
ou HOMEM
ou hOmem
ou hoMem
ou homEm
ou homeM
e não a mulher)
e o Homem inclui também as mulheres como costela arrancada da metáfora. Mas já das cadelas ninguém diz que os cães têm uma costela a menos.
 
Wednesday, December 05, 2007
  Eu e o meu avatar no mesmo corpo
. Ou gostava de me ver despir depois. Sabe que depois de a ter visto nua me vai ver com uma erecção
(o contorno da barriga os seios que ao alcance de mão agarro os mamilos rijos à espera de ser tocados as pernas e a pudeza escondida entre elas. abre-as e senta-se na minha cara)
, sabe que tem esse efeito em mim.
Tudo começava quando eu já me deitava a ler, Platão, Nietzsche, Flaubert e ela sentada ao computador alongava a espera e as letras às linhas e as palavras aos capítulos e as páginas às folhas e as folhas ao livro
(ainda tinha tempo e puxava do telemóvel e enviava uma mensagem ou fingia enviar para eu ficar com inveja de não ser para mim e lhe perguntar a quem ela queria a hora esta da noite)
. Depois bocejava, fechava o computador e começava a despir-se. Primeiro a parte de cima, as camisolas e ficava de soutien, ali, a mostrar-se pelo quarto
(sabia que assim que começasse a esboçar os movimentos de despir que eu já não olhava as páginas, pelos cantos dos olhos a espreitava a pele que já tanto conhecia que tantas vezes já tinha tocada e a que já chamava minha. procurava o relevo nos lençóis tocava-lhe com a mão e depois voltava-se. sabia que já não ligava ao papel depois de já ter visto a pele)
e só depois despia a saia, os collants, as calças, o que fosse. De cuecas e soutien mostrava-se pelo quarto. As cuecas no chão o soutien na cadeira, as pernas, descia-lhe os seios com os olhos e repousava no mamilo. Vestia-se depois à pressa e roubava-me o livro que há já muito tinha sido fechado
(no momento em que tinha sido apanhado com os olhos a olhar as pernas a descortinar o triângulo amoroso)
. Ou gostava de me ver despir depois. Sabe que depois de a ter visto nua me vai ver com uma erecção, sabe que tem esse efeito em mim.
Tudo começava quando eu já me deitava a ler, Platão, Nietzsche, Flaubert e ela sentada ao computador alongava a espera e as letras às linhas e as palavras aos capítulos e as páginas às folhas e as folhas ao livro. Depois bocejava, fechava o computador e começava a despir-se. Primeiro a parte de cima, as camisolas e ficava de soutien, ali, a mostrar-se pelo quarto e só depois despia a saia, os collants, as calças, o que fosse. De cuecas e soutien mostrava-se pelo quarto. As cuecas no chão o soutien na cadeira, as pernas, descia-lhe os seios com os olhos e repousava no mamilo. Vestia-se depois à pressa e roubava-me o livro que há já muito tinha sido fechado.
 
Sunday, December 02, 2007
  Do prazer
Hoje escrevo por escrever. Não tenho na ideia nenhum exercício de estilo, nenhuma reflexão filosófica. É escrever pelo prazer de escrever
(ai agora lembrei-me de algo mas como até foi um filósofo que escreveu o melhor é nem sequer pensar nisso para não cair na tentação de começar é melhor parar já fechar os parênteses e pronto não se fala mais nisso)
. muitas vezes me pergunto se terei mesmo prazer na escrita ou se o prazer residirá no prazer que tenho em outros admirarem a minha escrita. Não sei se há resposta para essa pergunta porque na verdade não sei se alguém admira a minha escrita. No entanto, retiro também prazer da expectativa do prazer que os outros retirarão
(como sentir prazer por antecipação da mera possibilidade de os outros admirarem aquilo que escrevo retiro já prazer mesmo que saiba que está tudo em mim que o prazer que retiro é apenas meu. reside na expectativa o prazer porque sem saber se alguém me admira vivo só esperando que alguém o faça e nessa espera criada por mim há o prazer não real. é o prazer da expectativa criada ilusório. escrevo para mim)
.
Mas hoje nem sequer pensei em expectativas e prazer. Deixei que as palavras se juntassem como o café, o leite e o açúcar amarelo e a manteiga a derreter nas torradas. Ao pequeno-almoço.
 
fgautomatica@gmail.com | 'é necessário ter o espírito aberto, mas não tão aberto que o cérebro caia'
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