O Ladrão
A cabeça lateja-me de um dia demasiado longo, de uma semana que é demasiado longa e que só ainda vai a meio. Sinto que quanto mais me aproximo do final da semana – que só hoje ia a meio – mais ela se estende e distende: e depois voltamos a juntar todo para descobrir que se estende e distende para parecer que não mais tem fim.
Com o computador ligado, carregava no rato que me lava daqui, para ali, abrindo mais uma janela e mais uma janela e mais uma janela e mais uma janela. Não sei porque é que fazia isto. Sei que as coisas não acontecem de forma inocente e fui dar com um poema de um outro blogue:
bite memaybe you don't know this, but:
i know you think that i'm a bad kisser.
and in a way i'm sort of relieved,
because i used to hate it when
you would slobber all over my mouth.
things probably would have been better
if we'd skipped the kissing entirely
and just kept our physical relationship
to biting, pulling hair, and you cumming on my belly.
[Levado emprestado sem permissão a
Sadie.]
Acho-lhe alguma piada no meio de todo esta cansaço, nem sei bem porquê. Nem sei porque é que escrevo sobre isto se nos passados dias passei grandes pedaços a escrever nas mãos para me não esquecer das coisas que me iam acontecendo, ou que via, para poder escrever, para escrever a vida como ela é mesmo e não como eu a vejo, se é que isso é possível.
Mas das minhas mãos, nem sei como, desapareceram todos os rabiscos, desenhos e diagramas e acabei por ver só a minha pele, limpa, sem sinal de caneta preta ou azul. É triste, como o cansaço pode fazer desaparecer mil e uma ideias e fazer perecer o processo criativo de construção de palavras.
Fica o poema que hoje acho que fica bem comigo mas que amanhã estarei tentado a rasgar, a fazer desaparecer do ecrã, tentado a desligá-lo sempre que o leio ou releio. Mas não sei, apeteceu-me algo escatologicamente cru e nu, apeteceu-me despir o amor e mascarar o sexo.