Fantástica Gramática Automática
Tuesday, February 14, 2006
  Cor do Calor
Embriaguei-me com as cores da cidade, com o calor do sol. Não resisti a olhar para os casacos cor de laranja, para as calças cor-de-rosa, tudo nas pessoas era de uma coloração que eu pensava desconhecer. Nunca tinha pensado que as cores fossem assim tão intensas, nunca pensei que a ausência de cor pudesse, depois, ter este efeito.
Descia aos tubos metropolitânicos para ir a um qualquer sítio; não sei se me lembro para onde ia, mas sei que não ia sozinho, lembro-me que me estranharam o silêncio – estranham-me sempre os silêncios. Olhava para as cores das pessoas, para as roupas berrantes que vestiam.

Quero lá saber que se vistam mal, quero é ver as cores.

Estava calor e fiquei sem companhia. Já sei onde ia, porque me lembro da relva verde de uma chuva de Inverno que não estava à espera desta súbita reacção do sol. E a relva cresceu de um dia para o outro e era de tarde e algumas gotas ainda brilhavam. Tudo tinha demasiada cor para os meus olhos. Olhavam-me na rua como quem olha um tonto que está maravilhado com tudo o que se passa à sua volta, imagino que tivesse um sorriso imbecil estampado na cara, como quem descobre as cores, como quem sente o calor na pele, como se tudo isto fosse demasiado novo e fosse demasiado sinestético e quinestético para ser suportado por um único corpo.
Deixei-me estar a respirar a toada primaveril no meio do Inverno no meio de uma jardim de relva no meio da cidade. Lembrei-me dos parques de Berlim, e das tardes soalheiras, lembro-me de olhar para as pessoas e querer se como elas, feliz, com a preocupação de não me ter que preocupar com nada.

Três pré-adolescentes passam por mim e riem-se; não me importo que isso aconteça, guardo dentro de mim um segredo tão grande que poucos são capazes de imaginar. E prossigo o meu caminho, comigo, contigo e com o nosso segredo.

Vivi o calor do regresso e do tempo que depressa passou. Levanto a cabeça, faço tudo o que tenho a fazer e contínuo. Na direcção do meu calor, da minha cor.
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Comments:
eu também persigo o meu arco.íris e tento chegar ao extremo do dito...mas ainda falta muito para lá chegar...no caminho as cores vão rodopiando confundindo o meu sentido para que o prazer de um caleidocóspio dure e se perlongue na vida...
 
“Quando fechamos os olhos e vemos a escuridão dentro e nós, pequenos pontos de luz escura formam formas e coisas e cores...."(01.27)

O calor clareia todas as cores... mesmo aquelas muito escuras!!
Quando não houver calor, tenta ver a cor do vento...
 
Há cores que só vemos quando estamos dispostos a vê-los. Pronto, lá tou eu, la palissada do dia.

Gostei deste texto, gostava de ir a berlim!
 
Não há nada mais estimulante do que um passeio cromático...sair e reparar apenas nas cores que nos circundam e imaginar como seria viver num mundo a preto e branco ou sépia...o filme "wizzard of Oz" explora muito bem este conceito...

parabéns por mais um texto muito interessante
 
... as cores são uma coisa boa e... uma coisa tramada, meu! Chego a sonhar com cores, as cores não me largam, pegam-se-me às roupas, dispo a roupa, colam-se á pele e volto as elas assim que acordo. Faço um intervalo para beber um café e lá estão elas no fundo da chávena; misturam-se e piscam-me os olhos provocantes. De vez em quando, escolho uma e faço amor com ela; ontem foi com a violeta; não esteve mal. Mas é possessiva como tudo e de religiosidade, nem é bom falar...
Amanhã, será com a rosa...
 
ficou a imagem de um silêncio reconfortante.......
 
existe um ditado budista que quando algum segredo se torna tao grande, tao insuportavel de continuar a transporta-lo connosco que poderemos susurra-lo para as paredes de um templo e tapa-lo com terra....
eu continuo a "whispering" entre os meus labios para o teu ouvido
 
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