Meteoro Lógica e meteorológica
Uma fina camada cobre o céu. Não são as nuvens carregadas de um Inverno sem chuva, de um Inverno. É uma pequena camada outonal que chega na Primavera, filtrando o sol e tornando a luz vaga, dúbia, esbatida, esmufada. As pessoas desconfiam e saem de casa com os guarda-chuvas e com impermeáveis. Uns arriscam-se ao tempo arisco e inconstante. Não diria que chove, mas as possibilidades de aguaceiros são pequenas. E a luz é boa para tirar fotografias.
NORTE: Céu em geral muito nublado. Vento em geral fraco (10 a 20 km/h) do quadrante oeste, soprando temporariamente moderado (20 a 35 km/h) de sudoeste no litoral e moderado a forte (30 a 45 km/h) nas terras altas. Períodos de chuva, mais frequentes no Minho e Douro Litoral. Subida de temperatura. Neblina ou nevoeiro matinal.
CENTRO: Céu em geral muito nublado. Vento em geral fraco (10 a 20 km/h) do quadrante oeste, soprando temporariamente moderado (20 a 35 km/h) de sudoeste no litoral a norte do Cabo Carvoeiro e moderado a forte (30 a 45 km/h) nas terras altas. Períodos de chuva a norte do sistema montanhoso Montejunto-Estrela. Subida de temperatura. Neblina ou nevoeiro matinal.
SUL: Céu em geral muito nublado por nuvens altas. Vento em geral fraco (10 a 20 km/h) do quadrante oeste, soprando moderado a forte (30 a 45 km/h) nas terras altas. Subida de temperatura. Neblina ou nevoeiro matinal.
Está uma senhora parada no passeio a olhar em direcção ao rio. A camada do céu tornou-se demasiado fina e ela abre o guarda-chuva para se proteger do sol. Veste preto e começa a suar. Morreu-lhe alguém há muito pouco tempo. É sempre pouco tempo quando morre alguém de quem gostamos. Distraí-me e já não vi o guarda-chuva negro que tapava um vulto negro na claridade da luz de um fim de manhã luminoso. Olhava na direcção do rio, mas nada via porque a fina camada que vemos no céu ergue-se do rio, que hoje é cinzento claro e tem águas traidoras.
Era nova e ia à igreja, vestida de preto. Morreu-lhe o marido marinheiro numa manhã luminosa e cinzento no Tejo. E canta o seu fado num destino desfeito.
Deus não me deu/um namorado/deu-me/o martírio branco/de não o ter
vi namorados/possíveis/foram bois/foram porcos/e eu palácios/e pérolas
(…)
Ou:/um dia/tão bonito/e eu/não fornico
A lógica dos meteoros junta o vento e o sopro da fala; a água e a saliva do beijo; o fogo e o sexo incandescentes; a terra e a cama onde se deitam.
O dia está bonito e é bom estar na rua, vestidos de preto ou com mais cores, sem impermeáveis e sem guarda-chuvas. Há mais pessoas na rua e não reparam na mulher vestida de preto. Porque já não é uma menina nem uma rapariga. Ainda não é uma senhora. É uma mulher, que se esconde. É uma mulher feita, crescida e madura. E ninguém repara nela.