Sem título #4
Gosto de escrever aos Domingos porque parece que não há mais anda para fazer. Não se vê ninguém nas ruas mas os centros comerciais estão a abarrotar e a arrotar; eu também arrotava se tivesse engolido uma horda. Os dias de nuvens como hoje pedem passeios de casacos quentes. Não que esteja um dia especialmente frio, mas há-de estar quando o sol que não vemos desaparecer. Quando chegar a noite. Uma vez, no Inverno, passeei numa praia de noite e a chover: não era bem de noite, mas era ao fim da tarde e já estava escuro e não havia sol e se for de noite quando o sol se põe e não quando começamos a dizer que são oito da noite, então já era de noite. Caso contrário era um fim de tarde.
Ainda é Inverno. Que inferno.
sonhei aos vinte anos (…)que eu tinha roubado a minha vida(…)decidi ir contra a futilidade do romanceE roubei sem a devolver. Acabei por ter que a ir resgatar numa película fabulosa com Errol Flinn, coisas com espadas e canhões. Não havia cá vida nenhuma presa no alto de uma torre, estava mesmo presa na masmorra mais funda e escura. E então? Não acabámos por protagonizar um dos salvamentos mais ousados de todos os tempos? Claro que sim. E resgatei-a e é minha. Lutas interiores são um sarilho desgraçado, é dar sempre uma no cravo e outra na ferradura.
Gosto do verso em que
decidi ir contra a futilidade do romance; especialmente porque não é de todo verdade. Pode ser verdade e pode não ser, por isso é que não é de todo verdade, é uma meiazinha verdade. Acho que também deixei estar esse verso porque acho que tem um encanto qualquer, porque também eu me debato com a dúvida da futilidade do romance ou da importância do romance. Mas falta um verso que omiti e explica o romance, que até eu já estava perdido sem perceber peva do que estava a escrever.
E vai assim:
depois de treler o monte dos vendavais. Por isso é um romance-livro, não é um romance-romance-de-amor. Para que não haja confusões acerca do romance.
Há ainda dúvidas que ficam sobre o romance, sobre essa corrida de resistência contra o tempo e contra a imutalidade criativa. O trabalho de resiliência criativa tem o seu mérito, mas justifica-se a existência? Fica a dúvida que carrega mais os ombros no início de cada trabalho.
fui apanhado aos vinte e dois anosem plena capicua inocente e ruaem amantíssima posse viralE descobri o que era o amor. Sem querer nem saber fui. Era capicua porque quando tentava inverter o resultado e compreender o processo reverso ia sempre dar ao amor. E quando foi a capicua de duas pessoas, que a via através de outros olhos, foi igual e de trás para a frente e traz para frente que já não vale a pena esconder.