Fantástica Gramática Automática
Monday, April 17, 2006
  Linhas
A parede branca à minha frente deixou de ser branca. Estiquei-me por cima do ecrã do computador e fiz um risco a lápis de carvão. Não sei bem porque é que fiz esse risco nem sei bem o que é que ele quer dizer, mas a verdade é que quando peguei no lápis e o encostei à parede nãos sabia muito bem o que é que ia fazer com ele. Fiz um riso torto meio decrescente, como os arco-íris que nos abrigavam a desenhar na escola primária quando estavam dias de chuva carregada e não podíamos ir ao recreio. Nunca gostei muito dos arco-íris, verdade seja dita. Especialmente daqueles que tínhamos que desenhar. Pois, também nunca tive muito jeito para desenho.

[A minha carreira terminou quando desenhei uma arca do tesouro e a minha mãe me perguntou o que é que uma máquina de lavar a roupa fazia numa ilha deserta. Mas isso até era impossível porque nas ilhas desertas não há electricidade. Razão tinha o Saint-Exupéry quando achava que os adultos eram todos uns imbecis.]

No entanto, a parede branca à minha frente há muito que deixou de ser branca. No rodapé as bolas de cotão juntam-se e fazem uma conspiração contra o aspirador. Isto longe da ventoinha de refrigeração do computador e perto dos cabos que ligam ao amplificador. E dois postais, um com um comboio e uns prédios outro com uma ponte e mais uns prédios.
Estava capaz de ir deixar uma pegada num cantinho da parede, as solas dos sapatos que tenho calçados são muito engraçadas. Mas dá muito trabalho lavar a parede depois. A pegada que faria no canto da parede podia ser uma espécie de carimbos com metades e batatas que se fazem nos jardins de infância. Só que em vez que cortarmos uma batata ao meio, amputávamos um pé.

Se soubesse desenhar já tinha pintado e desenhado três paredes e meia do meu quarto. Como só sei fazer riscos que parecem arco-íris de que eu não gosto, mais vale ficar sossegado e imaginar que sei desenhar. Levanto-me o com uma borracha tento emendar a porcaria que fiz – nunca fui capaz de desenhar uma linha direita, nem por cima de outra linha. Não resultou muito bem, porque a borracha era daquelas verdes e borrou tudo. Onde é que já se viu uma borracha que borra? Raios!

Decido-me a ir buscar um esfregão verde e um pouco de lixívia. Olho para o esfregão verde com desconfiança e afianço-me que não está ninguém em casa. E digo com ar de mau: Atreve-te!
 
Comments:
a minha mãe proibiu-me de tocar flauta em casa quando eu andava no ciclo. Ainda hoje não creio que se tenha frustrado um grande génio...
 
As paredes do meu quarto apenas têm em cantos escondidos a assinatura de alguém que passou por uma fase mais narcísica...
 
Forra a parede com paper vegetal desenha em cima do papel, se gostares fica se não rasgas, mas vais sentir-te de certeza mais descontraido para errar....
 
Pois é, tu desenhas mal! Mas podias, ao invés de desenhar, escrever nas paredes...
 
Gosto das tuas linhas.
 
Gosto das tuas linhas.
 
"s'yll vous plait, dessine-moi un mouton!"
 
[a minha Mãe mandou pintar de branco a parede rabiscada desde os meus poucos anos, não me lembro quantos. seriam quase 34 anos de rabiscos, alegrias, incertezas, tristezas e um "chapéu" feito de cobra engordada por um elefante. que não morra nunca o pequeno sábio em busca de algumas "coisas" (deveria ter dito conhecimento? verdades? coisas, quero que sejam só coisas!)]
 
Gostei muito do texto.
Ainda hoje em casa dos meus pais há paredes que risque. Ainda sei os cantinhos onde o fazia para ng ver.

Desejo-te uma boa noite
 
Já tentei comentar 2 vezes. esta vai ser a 3ª, afgora só digo que gostei muito do teu texto
 
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