As lágrimas que nunca choro
Há muito que não sentia um apertão no peito desta maneira. Há muito que não me sentia oprimido desta forma tão estranha, como se o ar fugisse de dentro dos meus pulmões e estes ficassem tão comprimidos que fosse impossível voltar a respirar. E pela primeira vez, lágrimas afloraram os meus olhos com a leitura.
Another piece of particularly bad news came later during the day. Several students riding a bus to school were assassinated in Dora area. No one knows why - it isn’t clear. Were they Sunni? Were they Shia? Most likely they were a mix… Heading off for their end-of-year examination - having stayed up the night before to study in the heat. When they left their houses, they were probably only worried about whether they’d pass or fail - their parents sending them off with words of encouragement and prayer. Now they’ll never come home.Todos os dias morreu alguém no Iraque. Não foi só alguém. Foi uma quantidade enorme de pessoas conhecidas para pessoas desconhecidas e distantes de nós. Mas pela primeira vez senti uma proximidade.
Nos noticiários as bombas nos carros e as mortes começaram a ser tão comuns que já nem nos apercebemos: vemos e de seguida eliminamos a informação do cérebro. Ter-nos-emos acostumado tão rapidamente a lidar com a morte dos outros? Ou não a sentimos como morte simplesmente porque ocorre a muitos quilómetros de distância? Fico tentado a optar pela segunda, é longe, é distante, não nos interessa. São outros, não somos nós nem os nossos próximos. Mas são desconhecidos que têm familiares e conhecidos: não são anónimos, são pessoas. Eles também são nós. Como é que nos tornámos tão indiferentes?
Leio regularmente o blogue de onde tirei este excerto, ou dentro das possibilidades de escrita que a autora tem de lá escrever. Há alturas que passe meses sem escrever. No meu egoísmo, muitas vezes penso que foi apanhada pela morte, como muitas pessoas de quem fala no seu blogue. Mas depois retoma. E penso, felizmente que não morreu, sempre posso continuar a lê-la. É horrível pensar assim. Porque o que subjazia ao meu pensamento não era o facto de um povo inteiro estar a ser torturado e morto – literal e metaforicamente – mas sim o facto de eu poder ou não continuar a fazer as minhas leituras diárias.
Sei que foi por ter as minhas preocupações na ordem errada que este texto me deixou tão sensível. Não porque as crianças que morreram tivessem a hierarquia das suas preocupações invertida, mas sim porque não lhes ocorria que pudessem morrer num dia de exame. Não lhes ocorreu. Nesse momento eram alunos universais, globais, que como todos os alunos têm as preocupações académicas.
O sentimento deles era o mesmo que vai ser o meu amanhã, quando apanhar o autocarro, o metro e andar alguns metros até chegar à faculdade para fazer a minha apresentação. No fundo, no âmago e busílis da questão, éramos todos os mesmos.