Osmose
Começou por ser a passada igual. Os passos. Os pés, as pernas. A música que eu ouvia no meio da rua: Solex, Snappy & Cocky. O ritmo dos nossos passos o mesmo, o comprimento de pernas igual. Era alta, estava calor e tinha o cabelo curto.
Soprou o vento o todo o corpo abanou. Distamos dez metros e eu vejo-a ao som da minha música. Parou para apertar um sapato e quando termina caminhamos lado a lado. Eu com a música, ela a dança-la. Passa dos meus ouvidos para o corpo dela através de uma corrente qualquer que nos liga, a altura, o cabelo curto, as pernas do mesmo tamanho, a passada igual e ritmada. O som da música. Vamos lado a lado e não nos atrevemos a olhar um para o outro.
Eu quieto, hirto, envergonhado, tenso. Ela bamboleia o corpo; não só a passada, os pés e as pernas, mas as ancas e o rabo dançam, movem-se e provocam. Estala os dedos e diverte-se.
Chegamos ao fim do quarteirão e paramos no semáforo. Está verde para peões. Fica vermelho e continuamos parados. Eu quieto e ela a dançar à minha música. Ficou verde e vermelho e verde. Passaram carros e carros. Camiões e carrinhas. E quando ficou o último verde que vimos juntos, arrancámos cada um para seu lado, como se a cor significasse uma partida de uma corrida. Fomo-nos afastando e desligando. Excepto a imagem da rapariga que tinha o cabelo curto, as pernas compridas e o passada do tamanho da minha.
Chamei-lhe Elisabeth por causa da música. E nunca existiu a não ser dentro da minha cabeça, na construção de uma pequena história/crónica/post que foi imaginado na saída do Metro de Saldanha, que demorou vinte minutos a escrever e tem quase trezentas palavras.