Antónimos
Fiquei a pensar na questão do número sete. Para haver um equilíbrio tem que haver uma facção oposta. Não isto pensando numa dialéctica, mas deixo muito claro, que para estar a falar de uma dialéctica aquilo que estou a falar é meramente teórico. Do meu ponto de vista, e opinião – e ainda hei-de escrever algo sério sobre isto –, a dialéctica só é possível na abstracção, uma vez que na realidade não há apenas dois elementos que se opõem, há uma maior quantidade de sistemas que interagem através de relações de poder (e dou por bem empregue a teoria dos polissistemas de Even-Zohar).
Adiante.
Pensando em oposições, fiquei a pensar que para cada maravilha do mundo haveria um horror. Mas ocorreram-me tantos, que a relação me pareceu imensamente desproporcionada. Não deixa de ser engraçado, que há muito mais coisas horrorosas no mundo que belas e, no entanto, nós continuamos a dar muito mais valor às coisas belas e delas nos recordamos.
Dias mais tarde à discussão sobre os sete pecados capitais e as sete maravilhas do mundo, a minha avó disse-me que por cada pecado capital havia também uma virtude. Sabia os pecados, mas não sabia as virtudes. Eu também não. Disse-me: parece impossível, um menino tão educado a não saber essas coisas. A minha avó desculpou-se dizendo que já estava velha e não se lembrava. Fui diligente e fiz os trabalhos de casa. Descobri a as sete virtudes. Que existem por exacta oposição aos pecados.
Generosidade – Avareza
Abstinência – Gula
Caridade – Inveja
Paciência – Ira
Simplicidade – Luxúria
Diligência – Preguiça
Humildade – Soberba
Já tinha discorrido sobre os pecados e aqueles que tinha cometido ou não. Agora discorrer sobre as minhas virtudes ia ser muito feio. Deixo isso para outros. Não ouso.
[Encontrei um gancho na minha cama. Sabia de quem era, não partilho a cama com mais ninguém. Os pecados de que falava não são nada comparados com o pecado de não estar contigo. Fiquei a olhar para o gancho e usei-o como marcador de um livro. Um dia ainda o hei-de perder na mochila ou na rua, mas não interessa. Caímos na cama sempre com tanta pressa que antes de voltar a voar ainda encontro outro.]