Fantástica Gramática Automática
Thursday, July 06, 2006
  Poesia da Maria
O papá e a mamã bem queriam engenheiros, gestores e médicos. Se havia coisa que os filhotes tinham era criatividade. Em proporções e com expressões diferentes, mas a verdade é que o papá e a mamã achavam tudo uma gracinha, desde que não passasse de uma brincadeira. Sabiam que se passasse da brincadeira íamos ter sérios problemas.
Passou da brincadeira e ninguém teve sérios problemas, gostamos todos muito uns dos outros e até somos felizes.

A história começa quando fui almoçar com uma amiga minha que me tinha pedido para lhe dar um parecer sobre um conto que tinha escrito. Eu disse-lhe que daria a opinião a título pessoal, mas nunca académico, que não sei fazer coisas dessas. Entre as várias coisas que disse, notei que havia uma enorme proliferação do verbo amar. Gosto muito do conceito e amor e uso-o muitas vezes, mas detesto o verbo amar em todas as suas conjugações. Disse-lhe isto, mas ressalvei que isso era uma questão muito pessoal, que nada tinha a ver com o conto.
Horas mais tarde contei à minha irmã. Ela sorriu e disse qualquer coisa. Depois escreveu,


Como fazer um texto que agrade ao meu irmão abusando do verbo amar

A caneta e o teclado amam o meu irmão.
Os críticos literários estão completamente rendidos a esse tipo.
Os críticos amam o meu irmão,
Os editores amam o meu irmão.
O Lobo Antunes ama o meu irmão.
E o contador de visitas do blog ama o meu irmão.

E porque o dinheiro não trás felicidade mas ajuda muito
O euromilhões e o totoloto amam o meu irmão.
Um jaguar entregou-se-lhe com a chave na ignição
Porque ama o meu irmão.
E veio também um avião, já com piloto na cabine.
Disse: não te amar é um crime.
Onde queres ir? Toca a subir!

O amor ama o meu irmão porque S. o ama.
E se calhar é para sempre, o que conta muito.
Nunca é certo, mas amam-se na mesma.
Amam-se com toda a audácia.

E se o meu irmão é amada pela incerteza.
Também o é pela certeza.

Por todos, enfim,
E também por mim.
Do original.
 
Comments:
isto tem tudo muita graça :)
 
Amo-te Vodka! Eh!Eh!Eh!
 
«o meu irmão ama(r)-se(-á) a si.(?)»
 
ehehehheheheheh

Ena, isso é que foi carregar no amor!
 
Também tenho dificuldade em gostar do verbo, em qualquer conjugação. Talvez por ser apologista do gesto e não da sua significância léxica. Essa palavra é melhor expressa quando não empregue, e insistir na sua utilização retira-lhe a carga. Exepcção feita a esta bela resposta em forma de poema...
 
E o mundo é belo... E são só coisinahs belas no mundo :)

Baci
 
eu amo o amor
mas dificilmente
o sei expor...
assim, tão verbalmente.
é que a palavra
no pátrio idioma
é pesada triste e cinzenta
não tem o aroma
a graça e a fragilidade
do love ou do amour...

... ou isto é da idade?
 
Já tinha visto este belo poema no original...que surpresa!!

um abraço
 
(Suspiro) Bolas, que desgosto ser filha única. A vida deve ser bem mais divertida com irmãos...
 
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