O movimento pendular entre o bom e o mau
Não me lembro de chorar por estar triste. Choramos quando somos crianças porque isso é natural, é uma reacção que acontece. Ficamos calados, metidos connosco. Em adultos continuamos a chorar, conforme os bloqueios que fomos desenvolvendo durante a infância, adolescência e mesmo idade adulta. Acabamos por deixar de chorar, de rir, de muitas coisas que dificilmente são recuperáveis.
Muitas vezes escrevo sobre isto porque é um assunto porque é algo que ainda é muito presente para mim. A última vez que tinha chorado a sério tinha sido aos quinze anos. Fosse porque razão fosse, a partir daí desenvolvi um bloqueio que foi quase impossível quebrar. E tornou-se um tema de exploração recorrente.
Porquê? Porquê? Mesmo nos momentos em que me sentia mais triste não chorava e achava que não estava triste o suficiente. E assim durante tempo. É neste momento que entra o “até que…”, mas vou dar continuação ao suspense, há ainda algo que tem que ser dito: o ano que teve início há um ano atrás foi um dos piores anos da minha vida – salvo raras e honrosas – muito raras e por isso honrosas – excepções. Não entrando em pormenores e saindo desta cadência delicodoce e melodramática, chegou a uma altura em que não aguentei mais e um dia cheguei a casa e antes de conseguir iniciar o computador já estava chorar. Não esmurrei teclados nem atirei o ecrã do terceiro andar. Chorei. Mas sentia-me ridículo, tão ridículo. Não resisti a olhar-me ao espelho. E chorava ao espelho e tinha uma cara tão estúpida que só tive vontade de rir. E ri. Mas não estava feliz.
Há as coisas que se movem na linha ténue das dialécticas – se é que estas existem –, o amor por exemplo. Entre o romântico e o ridículo, entre a paixão e o ódio, entre o desejo e a repulsa. Não soube por portas e travessas, mas sim por janelas. Especificamente, uma janela no meu computador e umas quantas espreitadelas alheias por cima de um ombro. Não era segredo, mas eu não precisava de saber. Mas soube.
Há uma rapariga que conhece um rapaz. Estão na mesma casa por acaso: à noite ele despede-se dela com um beijo. No dia seguinte passeiam. Onde é que tinha sido o beijo? Passeiam durante o dia e à noite ele repete o beijo e ela puxa-o para dentro do quarto. Fazem amor a noite toda e no dia seguinte ele tem que apanhar o avião. Perde-o porque ficam a fazer amor. Ela diz que se sente que fizeram amor com ela, que não foi fornicar nem sexo. Foi amor, e que se sentiu mulher apesar da idade que tem. E mais não sei.
Lembrei-me disto porque quando o nosso amor está satisfeito e pleno, regozijamo-nos com o amor dos outros.