Quarta-feira, dia cinzento
Hoje podia ser um dia como qualquer outro. Mas não é. Nem que seja por ser o único dia treze de Setembro que haverá no ano de dois mil e seis. E podia ser assim com todos os outros dias do ano. Mas não é. Só com alguns.
Então, é o único dia treze de Setembro de dois mil e seis e é uma quarta-feira; se fosse terça-feira era o dia da canção do Sérgio Godinho: amanhã que é quarta-feira/haja fogo outra vez. Hoje é amanhã e a chuva apagou o fogo. Quero fingir que há feira da ladra porque o dia que nasceu sem sol e ficou de chuva é um dia de tristezas e amarguras e almas amarguradas. Nunca versos foram tão bem escritos para um dia cinzento. Falta uma semana para o Outono e a rapariga/deixou no chão um lamento/que se ergue e gira/e roda com o vento/e rodopia/e navega/e joga à cabra-cega/é de nós todos/e a ninguém se entrega. Estes dias precedem muitas mudanças. Ninguém agarra o lamento nem por ele se interessa porque esperam ser felizes.