São Francisco e As Palavras do Profeta
Acabei por ver um filme, com um olho aberto e outro fechado. Pode não ter sido um dos filmes da minha vida, mas deixou um efeito prolongado bastante profundo
uso as palavras prolongado e profundo para tetradimensionar os efeitos do filme
e me voltou a fazer pensar sobre vários aspectos da minha vida. Supostamente os filmes que nos fazem pensar são aqueles que são bons, porque se cria uma via de dois sentidos
do filme para nós e de nós para o filme (embora este não nos ligue, ainda mais se foi realizado em mil novecentos e sessenta e sete.)
Mais do que ser um filme bem realizado, conta uma história sobre o vazio da vida após as graduações, sobre aspirações que se têm, que não te têm e a ansiedade acerca de um futuro que se aproxima galopante
embora nunca se saiba quando chega.
A banda sonora
parte muito importante do filme se não das mais importantes
é de Simon e Garfunkel. Podia estar a escrever isto noutro espaço
mas não escrevo porque não posso
é demasiado emocional, está demasiado perto de mim. Talvez tenha uma imagem excessivamente estereotipada, talvez me tenha identificado do que foram os estados unidos nos anos sessenta, da música e a Meca situada em São Francisco. Fiquei com vontade ir a São Francisco, ver a cidade, atravessar a ponte de Golden Gate e não sei que mais
porque não sei o que São Francisco tem que me atrai, não são os tremores de terra, há-de ser alguma que ainda não consegui imobilizar no pensamento.
Fica este registo, para memória futura.
The words of the prophet were written on the subway walls, é um dos meus versos preferidos das canções de Paul Simon. Tem uma cadência outonal que sempre encontrei nas canções dele e na sua relação com Nova Iorque. É uma cidade sempre fria e cinzenta
na Primavera também é cinzenta e fria.
Mas quando, nesta Lisboa de Outono, vazia de vida e amor, procuro palavras de consolo não as encontro nas paredes do metro. Encontro esparsos amores escritos a correctores e marcadores. Não há uma palavra de consolo
na rua a chuva chove por mim também
não há o que nos aqueça por dentro. Recebi um mail a dizer que na nossa vida deveríamos viver em Nova Iorque, mas não o suficiente para ficarmos duros, e em São Francisco, mas não o suficiente para ficarmos moles
isto é uma tradução livre muito aldrabada porque o mail era em inglês.
Para já, Lisboa.