A tendência do fado
Uma vez tentei ler mais do que um livro ao mesmo tempo, que era como ver televisão mudava-se de canal
(zapping)
e já estávamos noutra. Não consegui e achei que era parvo. Hoje estou a ler três livros ao mesmo tempo
(ou serão mais)
(ou serão menos)
(e porquê isso agora, tantos floreados para chegar aonde quero chegar)
e continuo com a mesma inteligência que tinha quando tentei ler dois livros ao mesmo tempo e não consegui. Talvez menos ainda, porque sim
(sem justificações.)
Mas como não é isso sobre o que quero escrever não escrevo mais sobre isso e pulo rapidamente para o que quero dizer, evitando uma extensa introdução cheia de parênteses que copiei de um livro que estou a ler e dentro dos quais me sinto confortável
(eu).
E ainda acho que sou meio parvo, mas outras coisas mudaram. ? Não interessa
(já disse.)
Tive o Verão inteiro
(a passar frio e a fazer amor o que não me deixava ter tanto frio quanto isso)
para descobrir que nunca poderia só escrever como ambicionei. Pior que isso tudo foi ter chegado a meados
(quase fins)
de Novembro para o conseguir compreender. Foi através de uma conversa de café depois de almoço, antes de ir trabalhar
(era o segundo dia de trabalho e eu já pensava que me iria despedir
eventualmente)
, em que tinham pago o almoço e agora
(no momento, se não fica anacrónico)
me tinham acabado de pagar o café e ofereciam um cigarro Gigante,
Gosto do Paul Giamatti
(o gajo gordo e barbudo)
como actor; fui ver o Lady of the Water, Eu também gosto dele
(repliquei)
especilamente no American Splendor, Eu também gostei muito desse.
Fiquei a pensar no Harvey Pekar e num diálogo do filme,
(que por acaso não sei, apenas a paráfrase já com a minha tradução,
- Tu precisas de trabalhar, porque é daí que tiras as ideias para escrever. Mesmo que o dinheiro não te faça falta, precisas de trabalhar. É por isso que nunca deixaste blá blá blá.)
e cruzei estes dados com algo que tinha lido sobre os Carlos Paredes: ao longo da sua vida nunca deixou de trabalhar onde quer que fosse
(mas sei que era para o estado, porque)
assumiu-se sempre como um funcionário público e não como guitarrista/compositor. Porquê? Porque se tiver que explicar o resto estou a insultar a inteligência de quem estiver a ler.
É a minha tendência para o fado e banda desenhada. A necessidade de me embebedar com a vida dos outros
(agora vou ser directo e falar sem adjectivos e metáforas)
para poder escrever. Senão caio na flânerie baudelairiana e não faço nada e
(sou um anónimo na multidão que se afasta à minha passagem e conheço as ruas e depois do
- Bom dia
- Boa tarde
- Boa noite)
sou eu vazio. E por isso nunca serei um escritor a tempo inteiro,
«Aceitam part-times?»