As coisas sentidas
E deu-me vontade de chorar
(não porque estivesse triste ou porque não gostasse do que estava a fazer ou porque algo de mau me tivesse acontecido)
simplesmente porque sim. Não é assim tão inocente
(porque todas as coisas que sentimos e às quais temos uma reacção emocional são para nós mais ou menos importantes)
, nada o é. O dia está e é sol e na varanda sabia que estava a fumar o último cigarro nesta varanda e apesar de já ter deixado de fumar à mais de um ano continuo a fazê-lo, especialmente nesta varanda
(anda me lembro da conversa com a amiga belga, no Verão,
- What is it about art?
- Is there art without process, without concept?
- Well, art for art, as modernism conceived it
e terminámos às quarto da manhã um conversa que tinha começado num pub no norte da Holanda com mais quarto pessoas, uma conversa que começou a seis e acabou a dois em Julho pouco antes de ter ido para França onde passei Agosto
e subi e desci a montanha e escrevi e ouvi música e pela primeira vez vi a Torre Eiffel e o Arco do Triunfo e Marselha
não por esta ordem)
na qual escorregaram tantos pensamentos e beatas deste terceiro andar. Talvez me sinta com disposição chorosa ou apenas encabulada. Para mim, dois mil e seis termina apenas amanhã
(o final de uma fase
- Mais uma fase que terminou
como gosta tu muito de dizer enquanto eu prefiro outro substantivo abstracto
acho
que de momento não me recordo. Desta casa as recordações não são as melhores, apenas as tardes que víamos anoitecer de luzes apagadas deitados no sofá enrolados em mantas ou em nós. Associo esta casa a um dos períodos
é este o substantivo que prefiro, abstracto ou não
mais complicados.)
e por isso me deu vontade de chorar. Por ter sido difícil e estar a terminar. Porque o senti demasiado na pele.