Verdes Anos
Desde que existo
(sem contar que existia como embrião ou fertilização na passagem de ano oitenta e um/oitenta e dois
e depois nasci em Setembro)
já passei pelo menos vinte e três passagens de ano. Um pular daqui para ali, uma linha invisível como o equador ou os trópicos. Uma espécie de salto do jogo da macaca
(em que as linhas são riscadas no alcatrão com giz
ou com restos de tijolo
ou um pau se for na terra)
à escala do atlas. Convenções que são feitas a partir de linhas mais ou menos convencionadas e convencionais
(como os calendários.)
Na quase passagem do dia três para o dia quatro de Janeiro de dois mil e sete, menos de um mês depois de ter convencionado comigo mesmo
(convenção mais tácita que as linhas imaginárias que vamos vendo aqui e ali
nos globos e planisférios e mapas
e lembro-me que me esqueci das linhas redondas, curvas de nível
como a ferida no meu polegar)
que não iria escrever sobre efemérides, religiosas aceitáveis ou religiosas não aceitáveis. Simplesmente não iria escrever isso, fazer listas e desejos
(paz no mundo fim da fome igualdade social
- Votem em mim dizem o Manuel e a Mónica
em momentos diferentes)
que nunca são realizados. Acabei por escrever sobre duas das efemérides a que mais bílis e fel dedico. Ao contrário das outras todas, desde o novo milénio que as minhas passagens de ano são alegremente alcoolizadas
(umas mais alegremente
outras mais alcoolizadas)
e às vezes temperadas com algo que me faz tender ao esoterismo instantâneo.
Mas não só potenciado surge o esoterismo em mim, pois tendo eu uma relação complicada com os anos par
(verdade é que lido tão mal com o meu nascimento por causa disso, embora não saiba o que de mal de aconteceu nesse ano de nascimento
cólicas
dentes
e não é suficientemente mau o simples facto de ter nascido?)
deposito neste ano muitas esperanças.