Murais
Acho que acabou por começar durante o fim-de-semana, não um fim-de-semana qualquer, o passado, aquele em que por breves momentos voltei a ver uma cidade que eu desconheço e que me não conhece
(acabou como sempre, a ver o mundo pelo fundo de copos vazios, entornados e pingados e a barriga inchada no dia seguinte, demasiado cheia a arrotar gases,
da água tónica que misturava o gin
do dióxido de carbono da cerveja e já não sei que mais.)
embora tenha acabado por começar assim, entre copos e demasiados cigarros que no dia seguinte, o do referendo polémico
(e calo-me em relação à minha posição politica, uso o referendo com referência temporal e é esta mesma a única referência que vou fazer
ou bastava ter dito que tinha sido no fim-de-semana de dez e onze que só tinha começado no dia dez para mim, mas agora já não interessa porque já está escrito e não merece a pena apagar)
tinha uma voz que não reconhecia. Arranhada e com a mesma roupa da noite anterior
(dormir de sapatos e casaco)
tresandava a cheiros de bares cheios, a suor de pessoas que tinham demasiados casacos e demenos desodorizante. A mio de uma conversa alguém disse,
“Quando saía de casa em Berlim via no alto de um prédio
(alto devia ser o telhado, acho)
um telão de que dizia Bonjour Tristesse e sorria sempre que via aquilo”
(eu pensei que também, era bonito, e acho que se visse algo como isso escrito todos os dias também sorriria sozinho, numa manhã de sol a ouvir música, dentro de mim, entre o fígado e vesícula, na bacia nas costelas, por todo o corpo
não é por acaso que temos um osso chamado rádio)
estranhei a língua e pensei que seria mais indicado qualquer coisa como Guten Morgen Traurig
(é um grande risco confiar nas traduções da internet misturadas com a elementaridade do nosso alemão e arrisco-me a despertar a ira dos germanófilos e lusófobos.)
No Cabo Ruivo, em Lisboa, à saída da estação de metro, reparava nos grafittis por causa da conversa do fim-de-semana
(a do telão da tristeza)
e um dizia Amanhã Dou-te Os Parabéns e pareceu-me extremamente poético. O suficiente para um Bom Dia Tristeza em Lisboa
(mas ao fim da tarde
ou meio da tarde mas quase fim porque já é de noite a essa hora embora o dia já se encontre a aumentar desde vinte e um de Dezembro).