Pequeno-almoço e Glenn Miller
Foi ontem, à tarde
(depois do metro, do mercado, das compras, do telemóvel, dos livros, do iPod, do vinho e do azeite
depois de tantas tarefa inventadas e outras que eram mesmo necessárias
o telemóvel
os livros
o azeite e o vinho não tanto)
depois de tantas horas fora de casa. E antes de tudo mais comia torradas e bebia café português
(não é tão exótico como beber café turco para parecer cosmopolita, mas o que me interessava era beber bom café e o melhor café do mundo é o café português, além do mais é tradicional
e agora que estou a viver fora é que me dá para o lusocentrismo)
e no rádio, em estação nenhuma porque estava desligado, tocava uma compilação de jazz comprada por poucas libras, há um ano atrás no mercado de Portobello
(essa palavra tanto dá uma de snobismo cosmopolita
como uma de amante de má literatura pensando no último romance do Paulo Coelho)
; então, bebia café português, comia torradas com manteiga e Glenn Miller. E depois Nina Simone outros que não conheço. É aquele jazz velhinho, para dias de chuva e pequenos-almoços às duas da tarde
(mas não estava chuva e o sol era quente)
mas também podia ser outra coisa, um álbum riscado que anda perdido ao pé da fruta na cozinha, umas versões que o Thelonius Monk fez, uma faixa sete fabulosa que me arrepia e ponho no repeat one na esperança de
“É a quarta vez que estamos a ouvir a mesma canção. Tira lá isso”
ninguém reparar e ainda por cima a canção é tão pequenina, só dois minutos e pouco. E consegui ouvir a música, a mesma, durante quase dez minutos seguidos. Um jazz solado de saxofone com um acompanhamento de orquestra. E isso foi tudo ao pequeno-almoço. Depois o metro, o mercado, as compras, o telemóvel, os livros, o iPod, o vinho e o azeite, depois tantas tarefa inventadas e outras que eram mesmo necessárias, o telemóvel, os livros, o azeite e o vinho não tanto.
(Por fim o regresso a casa, sentado em frente ao computador, escrever à socapa entre tradução e introdução ou conclusão
de novo o iPod e quando a conversa estava no auge)
“Stop distracting one another and do your work!”