Da dialéctica
A culpa é da minha irmã. Quer dizer, desde que éramos pequenos que a culpa era dela. E da outra também, mas depois crescemos e já não me lembro de quem era a culpa
(mas a culpa não vem aqui para o caso e o que interessa é uma discussão que já tem um ano
que por acaso foi começada por mim,
“Sabes, eu acho que a dialéctica exis”
então neste caso a culpa é minha porque fui eu quem a começou. Pronto.
“porque depois há o contex”
entre estas linhas falta a totalidade do meu argumento, que não quero desenvolver, por não ser exacto, ou pelo menos devidamente fundamentado, e para não ser tendencioso.
Por isso não quero tomar parte na discussão, porque apesar de estar dentro dela, neste momento quero apenas fazer um relato.)
é sobre dialéctica. Sobre a dialéctica num contexto real e sobre a dialéctica no abstracto. Um dizia que ela existia em ambos os planos e o outro dizia que só no abstracto
(deve ser mais ou menos assim o resumo
muito resumido, quase insultando a prolixidade de argumentos
aos quais acrescentamos mais um pouco,)
O método da dialéctica é o único que procede, por meio das destruição das hipóteses, a caminho do autêntico princípio, a fim de tornar seguros os seus resultados, e que realmente aos poucos os olhos da alma da espécie de lodo bárbaro em que está atolada e eleva-os as alturas, utilizando como auxiliares para ajudar a conduzi-los as artes que analisamos (Platão VII. 533c-d).
Cuidado com o erro*! Ai ai ai, não nos podemos enganar. Maldita interpretação!
É próprio do saber dialéctico «aprender a essência de cada coisa» (VII. 534b). Deve ser capaz de distinguir a natureza essencial do Bem, isolando-o de todas as outras ideias (VII. 534c). (...) Derivada de dialegesthai («falar com», «discorrer», «raciocinar»), pressupõe interlocutores – exactamente como ocorre no modo de filosofar da obra platónica, designada, alias, por uma palavra da mesma família: «diálogo». Por esse motivo, Nettleship pôde escrever: «O termo «dialéctica», que desempenha um papel quase tão proeminente na filosofia platónica como «forma», não significa originariamente nada mais do que o processo de discussão oral por meio de pergunta e resposta» (Pereira 2001: xxxii-xxxiii).
*O erro pode consistir em atribuir à dialéctica o valor que tomou a partir de Hegel e depois Marx e depois a minha irmã. Só para ter em atenção.
Platão (2001). A República, 9ª edição, tradução de Maria Helena da Rocha Pereira. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.