A trança dos acontecimentos
Estou
Estava
tão sentado quanto estou agora e os travões guincham e guincham durante tanto tempo que vai ser inevitável o choque e eu continuo sentado. Assim, como estou agora.
Ao mesmo tempo, e estou igualmente sentado, um homem atravessa na passadeira e é tão difícil perceber se é desequilibrado
se está ou é bêbedo.
E agarra-me pelo estômago o estilhaço do metal e dos vidros
(clish clash)
porque sei que há sangue. Há sangue. Ouço-o escorrer pelos meus braços e sei que não havia airbag. No alcatrão há uma poça.
O homem
(e eu continuava sentado)
que ia desequilibrado
que era desequilibrado inclinava-se para trás, mais ainda.
O carro está parado
(clish clash)
mas o barulho ainda ecoa nos corpos que foram sacudidos.
Chegou ao outro lado, fez um movimento circular sobre o calcanhar
(vai cair, é fá cil de ver a posição, desde que não bata com a cabeça e na queda que dura um segundo, mais ou menos calculando a distância o peso da cabeça e do corpo e a força da gravidade)
e cai sem bater com cabeça, um glorioso esforço abdominal não reconhecido pelos transeuntes habituados. A tudo.
O carro eventualmente arrancou, com o barulho dos estilhaços.
Em dias diferentes horas diferentes. Só o sol era o mesmo.