Dias ao sol
Foi bonita a festa, pá
Pena ter terminado tão depressa. Tinha fumado mais um cigarro, bebido mais um copo de vinho. Aquela moça que passava e bamboleava a bunda boa, piscava-lhe o olho, beliscava-lhe a pele e ficávamos a ver ao astro mudar no horizonte.
Fiquei contente
O vinho fez-se hálito mau no dia seguinte a bunda saía da cama ao olhar este farrapo de pessoa, os de cão-abandonado-carneiro-mal-morto, Não te quero homem, não quero ser mãe e saiu porta fora. Eu fiquei, olhei para o vinho em mim e para os despojos da noite.
Ainda guardo renitente um velho cravo para mim
Na lapela do casaco, na ponta da espingarda, abandonados à cadeira, ao chão, na ânsia de a despir, de lhe arrancar a roupa e agarrar a pele da bunda.
Já murcharam tua festa, pá
Não foi só a festa. Foi o apêndice também, depois da bunda. Sai a dizer que não quer se mãe e eu dobro-me em mim nos lençóis com cólicas de morte da noite que passou, de dia livre que virou festa de flores.
Mas certamente
que sim! Ela não é mãe e eu queria ser filho. Queria ser amamentado, rebaixado e tratado, escravizado, adulado, idolatrado, lavado. Um reizinho de caracóis loiros e olhos azuis, roscas gordas nas pernas e um terno de ir à igreja.
Esqueceram uma semente nalgum canto do jardim
Não há sementes esquecidas, foram todas deitadas fora. Em borrachinhas, todas as que gastámos durante a noite, a única mesmo, que não foi permitida mais nenhuma, que saíste porta fora, sem ai nem ui, como mãe rafeira que abandona um cachorro.
Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei, também, quanto é preciso, pá
Navegar, navegar
Canta Primavera, pá
Cá estou carente
Manda novamente algum cheirinho de alecrim
Até aos santos do próximo ano, amigo Chico.