O homem que ia à frente do autocarro
É a carreira do setenta e sete oitenta e sete quatrocentos e cinquenta e dois
(que pára a meio)
do p cinco do g um. Vai na tira vermelha dos autocarros. Durante muitos metros, balança-se para os dois lados. Tem a cara branca como as pernas que aparecem entre os sapatos sem meias e as calças demasiado curtas.
E vai assim,
a pedalar demasiado rápido para a velocidade que leva, uma mudança muito baixa
(e vai assim
As pernas não me falham
mais rápido mais rápido não consigo mas não me falham os pés nos pedais
mais rápido mais rápido
e agora que é uma pequena descida antes mesmo de chegar à paragem do autocarro que se cola à minha roda de trás consigo ir sem as mãos no guiador sem guinadas apenas a bicicleta e os meus pés parados nos pedais e agora não agora não agora e
não sei se abra os braços para me equilibrar se para sentir mais vento no corpo a bicicleta a abrandar e
passo debaixo da ponte o autocarro vem aí)
Volta a pôr as mãos no guiador e a pedalar demasiado rápido para a velocidade que leva
(e depois da ponte do comboio subo para o passeio e
upa já está, desvio-me e o autocarro passa ao meu lado na estrada)
Olho para ele e penso que o vou escrever
(um olha para mim e quase choco com o carro do lixo fujo ao sinal vermelho ao virar para a esquerda para os armazéns de Battersea mas com uma guinada para a direita volto à estrada galgo o passeio e vou à frente do autocarro viro para a esquerda e desço sem braços outra vez seguro de que sou imortal e nada me vai acontecer)
E fui
(e foi.)
Sei que é Verão e que há muitos dias chove, não me importo hoje, há prazer na chuva, no mesmo suor que de manhã nos enlevou
(os teus lábios salgados, estar nos teus braços é um prazer aquático tridimensional)
era a música. E não chovia em mim até meados de Maio. No escuro escondido do teu colo.