Salta-Pocinhas e Platão no plural
Como quem usa uma pele de vison verdadeira à volta do corpo e diz
“Hoje vesti a minha raposa”
, pouso o livro e afirmo, em voz alta
“Hoje terminei o meu primeiro Platão”
. Isto dito de forma pretensiosamente orgulhosa. Contudo, nunca me senti tão diminuido. E apesar de o ir contrariar. Há algum tempo que não demorava tanto tempo a terminar. Um mês e meio. E corrijo,
“Hoje terminei o meu primeiro Platão e amanhã vou começar o meu segundo”, portanto
Hold on to your knickers!
(nova expressão favorita em detrimento de I’m late I’m late for a very important date
chiça, tenho que sair desta terra se não fico totalmente anglicizado.)
Fica já a indicação bibliográfica para não ter que a repetir a direito e a torto
(porque, já se sabe, muitas citações se esperam nos próximos dias
, ou mês e meio se voltar a demorar tanto tempo. Mas o livro é mais pequeno, embora a minha diminuição permaneça.)
Platão (2000). Fedro ou Da Beleza, 6ª edição, tradução de Pinharanda Gomes. Lisboa: Guimarães Editores.
(Confesso algum entusiasmo neste próximo
e segundo
, uma vez que o sentido de humor platónico é bem mais britânico do que grego; mas não arrisco nenhuma afirmação porque a história das carteiras e dos carteiristas fez-me engolir as
minhas próprias palavras
(qual sopa de couve na infância)
e lembrar-me de que, quando se faz um comentário sobre traduções, se deve ter
não o original mas
o texto de partida à mão. Ou olhos.)