Quando escrevemos leve a esconder pesado
Às vezes, quando me decido a seguir links acabo por chegar a lugares estranhos
(ou
lugares que para mim são estranhos, restos de vidas, retalhos que me são oferecidos. Sempre rápido a julgar, digo isto, penso aquilo, desenho o boneco e tenho uma pessoa perto de mim, sentada na cadeira ao lado da minha secretária
(- Olá
- Olá, e então?
- Já sei como és
- Não, nunca vais saber
- Mas tenho-te aqui
- O que tens é aquilo que construíste, mas não sou eu. É um espelho espectral. Sou isso)
E isto só pelas palavras que utiliza, pelos livros que lê
ou não
, pela música que ouve
ou não
. Até pelos seus interesses isolados.)
É fácil encontrar o mau e dizê-lo, é mais fácil do que procurar o bom e agarrarmo-nos a ele. Aos blogues são muitas vezes atribuídas a puerilidade e futilidade como características. E também um registo muito diarístico
(porque está datado, parece-me a mim e já agora organizado cronologicamente.)
. Ambas as características fazem implicações veladas de que o conteúdo dos blogues nunca se poderá comparar ao conteúdos dos livros. Mas se a escrita pueril, leve e fútil for um espelho espectral do peso da vida de cada um, estaremos a cometer o mesmo erro que eu cometi quando depressa percebi a pessoa que tinha ao meu lado, sentada na cadeira da roupa, aqui ao meu lado
(toda a escrita é pesada e forte e pujante porque se centra em cada um, em cada individuo só; e mesmo que não seja sobre o EU, é a impressão digital ou a marca de água do produtor que fica. E aquilo que é leve para o consumidor é pesado para o produtor, porque saiu de si, porque é seu, parte integrante do corpo.)
Quando comecei a escrever o meu segundo blogue
(ainda sem ideias de um dia escrever uma tese a defender a literatura dos blogues)
escrevia longos parágrafos e textos porque só assim podia ser considerado literatura. Isso nascia da minha pretensão. Porque só longo podia ser literatura.
Depois escrevi no topo do meu blogue que era o “blogue literário de miguel f ceia”. Para tirar. Porque não sou eu quem decide o que é ou não literatura
(independentemente de ainda ter tiques de textos longos)
.
No fundo estamos a falar da insustentável leveza do ser.