Cadeira
Até finalmente me ter conseguido sentar. E depois levantei-me e fui fazer outra coisa
(procurar ideias ao frigorifico à cama por fazer às memórias de férias ou do trabalho ou a outras coisas quaisquer)
. E depois voltei a sentar-me sem me conseguir concentrar
parece que volto a sentir a angústia que às vezes não me deixa dormir
(já tive uma ideia o homem manco que subia da rotunda do relógio em direcção aos olivais
depois e tanta terra sem mar a nos separar
e na mão que não ajuda a manquez levava tantos garrafões que à luz do sol ganhavam brilho e pareciam uma flor com o desequilíbrio da perna trôpega e estragada)
porque se todos os dias trabalhava, se todos os dias escrevia, se todos os dias me sentava e tinha ideias fui deixando-as fugir e repousar para mais tarde, como um caçador de borboletas que se senta numa pedra triste
(ou no assento do carro a chorar por uma carreira mal escolhida
quando eu quando recebi o diploma em casa e dizer que era oficialmente reconhecido por uma instituição pública de ensino superior que era educador de infância que remédio remediar a situação e escolher)
. Sentei-me a fazer outras coisas inúteis no computador e levantava-me para comer pão com queijo. Até que escrevia e as palavras custavam tanto, já não eram palavras anónimas e casuais, não eram aleatórias nem passeavam sós
(tal como todas as outras e de todos os outros traziam Platão Ovídio e a Bíblia)
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