… e as ideias soçobram
Era sempre mais fácil escrever sobre Platão. É sempre bom acabar de vez com um blogue, não tinha que escrever todos os dias, não tinha que regular
(mas como achava que sabia escrever
mito cada vez mais desmistificado na essência de que a escrita não interessa se não tivermos leitores e desse ponto de vista olhando continuo a escrever como um exercício onanista
como o último filme à prova de morte
para que um dia já não tenha que escrever uma autobiografia. Mas como raramente escrevo sobre mim só sobre apenas a minha visão do mundo escrevo um livro chamado
“Biografia do Mundo Segundo a Visão Contingente de Miguel Fernandes Ceia”)
. O fim de um blogue, a não ser que seja meticulosamente planeado com alguma antecedência, é algo que me desilude porque acho sempre que as pessoas hão-de voltar a escrever
(especialmente triste com a educação sentimental e os tristes tópicos)
porque mesmo que se deixe de escrever isso é apenas sacudir as gotas da água da chuvamolhatolos do casacos de lã. Depois disso pára-se a escrita mas as ideias continuam e sabendo que haverá sempre alguém que nos vai ler
(especialmente se somos inteligentes e virtuosos como a inês e a helena)
e retoma-se. Não por vaidade mas por incontinência ideal.
A pressão
Era sempre mais fácil quando escrevia sobre Platão, as ideias vinham do meu dia, as ideias vinham sobre algo a que me ligava directamente e depois era só isso. É tão difícil criar todos os dias
três dias por semana
dois dias por semana
ou mesmo que fosse só um dia por semana, criar é sempre um processo que resvala para os rasganços viscerais
(e mesmo que toda a literatura ocidental seja uma nota de rodapé de Platão ela é nós porque deriva das nossas experiências e contingências do espírito do tempo presente ausente passado e provavelmente futuro)
e por isso é mais fácil drenar da DREN umas gotinhas opinosas e sobre TGV TAP DIAP e de outras tantas siglas.
Filosoficamente é mais fácil opinar sobre o mundo do que criar
(porque as opiniões são como os cus, cada um tem o seu; ora se todos nós temos cu
e já agora medo
teremos também opinião, depois é só expressá-la.
Era sempre tão mais fácil quando escrevia sobre Platão, era como escrever sobre o que lia no jornal, como a virgem e os pastores e jesus nas panquecas servem para desenvolver um país. E mais as coisas que não sei
(porque não leio jornais, não vejo televisão, não ouço rádio
são tão burro que tenho que escrever sobre o que sei)
por isso resta-me inventar o lugar em que vivo.