O jardim dos caminhos que se bifurcam
A fé é tudo. Mas a ausência de fé continua a ser tudo porque na crença humana não há vácuo. A fé é uma perspectiva sobre tudo. A ausência de fé também, mas não é a perspectiva oposta à perspectiva de fé
(a fé é ser no presente com uma letra a mais não ter fé implica utilizar mais palavras ter fé é ter tudo mas essa totalidade é contingente a fé não é uma perspectiva é um adjectivo que se atribui às pessoas que acreditam em algo para o qual não há provas concretas são as pessoas que têm essa perspectiva não é a fé)
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O Verbo, quando foi feito carne, passou da ubiquidade ao espaço, da eternidade à história, da felicidade sem limites à mutação e à morte; para corresponder a tal sacrifício, era necessário que um homem, em representação de todos os homens, fizesse um sacrifício condigno.
A fé é o jardim dos caminhos que se bifurcam, um livro infinito da biblioteca, deixo aos vários porvires, a cada um vós a possibilidade. A crença é certa, a possibilidade é para a forma demonstrada. E a guerra sobre a melhor forma.
Jorge Luis Borges in Ficções.