Possivelmente, fátima
Esta noite sonhei com a primeira rapariga que era mais velha que eu por quem me apaixonei. Quanto tinha onze anos vi-a e apaixonei-me e ela já tinha treze por isso qualquer possibilidade de dar o primeiro beijo estava fora de questão. Lembro-me do dia no sótão e de lhe dizer que a amava e que gostar era palavra pequena
(ainda me pergunto como é que é possível ter pensado que a palavra gostar era mais pequena que a palavra amar qualquer pessoa que saiba contar observa que a palavra gostar tem mais duas letras. Mas na verdade o que conta numa palavra não é o número de letras mas sim as circunstâncias em que a empregamos e o valor que lhe damos por isso é provável que eu até estivesse certo em afirmar que gostar era uma palavra mais pequena se a empregarmos em circunstâncias em que seja conceptualmente menor)
para o que sentia e que se ela me quisesse dar uma fotografia eu queria
(claro que queria dar uma ela que até ia tirar fotografias e guardava uma só para mim que nunca cheguei a ter)
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Lembro-me de tudo isto porque hoje sonhei com ela
(e mesmo que não tivesse lembrar-me-ia na mesma, porque os primeiros desgostos de amor escavacam o coração de uma cá maneira. Mas eu sempre fui destravado e nunca aprendi muito com isso sempre me escavaquei todo)
. Depois lembro-me de ter doze treze catorze quinze dezasseis de ela ir para a universidade e só esporadicamente nos vermos. Ainda penso nela porque ficámos amigos, conheci-lhe namorados e ela conheceu-me namoradas mas não evito pensar
(que lástima querida fátima esta noite estavas mesmo bonita)
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