A dicção
Às vezes tenho medo de ler livros. As últimas duas semanas têm sido uma dessas vezes
(há uma angústia que não consigo controlar. sei que nos livros encontrarei aquilo que procuro já vi as arestas e os vértices mas ainda não os agarrei)
. Não é a primeira vez que isso acontece. Acho que tem acontecido ao longo de toda a minha vida. Cheirava os livros dos meus pais, via, a páginas tantas e tinha medo do que podia encontrar
(e sempre que me decidia a gostar do cheiro dos livros mesmo aqueles que ficaram na garagem inundada encontrava o que procurava melhor ainda encontrei coisas que foram muito importantes depois como percursores da vida que acabei por estar a viver)
.
Por mais que tente encontrar a razão da minha ansiedade não a encontro. Uma metáfora ou uma metonímia podiam ajudar-me, mas nunca chegariam ao âmago do meu medo, apenas dariam uma melhor compreensão daquilo que estou a atravessar
(creio que a minha dicção sempre foi muito particular mas também acho que a dicção de cada um é muito particular)
. Cada vez que me sento a abro o livro escrevo. Escrevo páginas de ideias, de conjecturas e, no final, tenho medo de tudo isso. Não tenho medo de pensar, isso dá-me prazer
(é um livro importante é um livro mais velho que eu)
, fico paralisado enquanto as ideias são escritas sem mediação da mão. No final do dia leio o que escrevi.