A mulher na noite
Era já tão de noite ontem à meia-noite. Abeiro-me da janela onde fumo os pulmões pela última vez antes do sono me tentar; nada para o sono e lá me decido depois da arte de amar
(ali muitas vezes as moças arrebataram os corações dos rapazes e vénus no vinho tornou-se fogo no fogo. aqui não te fies tu em demasia nas luzes enganadoras na apreciação da formosura são danosos a noite e o vinho)
em mais um cigarro, talvez seja com este que o sono venha
(abeiro-me da janela outra vez e com o correr e o toque no estore o cão começa a ladrar espreita o vizinho a ver se vê e olha a ponta vermelha que flutua. nunca sabe se tenho cinzeiro ou não chama o cão para dentro e de manhã vai ver se há uma ponta beata fumada e chupada)
. O sono não veio, mas o cansaço treme-me as pernas.
Deito-me, cama de jornais e livros umas peúgas se a noite se fizer fria e já é tão de noite outra vez que já era hora de tornar a dormir. O quarto minguou, a lua e as paredes encostam-se ainda mais
(como o prédio que tem sempre pelo menos uma luz acesa ontem era uma mulher de soutien que queria que alguém a olhasse também fumava e perfurava a noite na esperança de ver e ser vista peito descaído de quem já deu mama. explodia hormonas e sensualidade chegava-se à minha janela mas não me via talvez o risco vermelho e o resto da cinza a cair no cão. cheirava a mulher feita)
. Ainda depois do cigarro
(já era o terceiro o quarto o quinto que fosse hoje fumava a onça se isso quisesse dizer que via a barriga a desinchar e o peito descaído em soutien)
me ter queimado os dedos continuei a olha-la, um vislumbre de pernas e pelos, cuecas ao longe, dobrava lençóis e toalhas, suspirava pela celulite nas nádegas. Fechou a janela e a luz e desapareceu.
A noite tornou-se ainda mais inquieta e ainda tornei aos cigarros e ao cão para não me voltar a lembrar mais qual era essa janela que hoje não descubro de dia, onde se guarda essa mulher onde tornarei à noite, onde a verei em rota roupa interior a suspirar celulite e peito descaído
(é ainda tão de dia tão tarde se fará noite que o cão não ladre nem o vizinho espreite que esta noite a mulher será de novo somente minha)
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