A perdida arte de não escolher
Realmente perdida. Para mim não
(a verdade é que não se pode encontrar algo que nunca se teve para mim há-de ser sempre a arte intocável impalpável porque apesar de tudo é bom ter escolhas e poder fazê-las faz parte da nossa liberdade o que não quer dizer que seja fácil)
. Ontem ainda buliam em mim as minhas escolhas. É tão difícil limitar as escolhas a cinco. Mas ainda bem que escrevi dez palavras
(se calhar mais se calhar menos a minha dicção nestes dias não anda muito feliz)
sobre o espírito do tempo presente, porque é isso que me leva a remediar o que escrevi ontem e talvez acrescentar mais alguma coisas.
A escolha é contingente a tudo, até ao próprio dia. Não é uma questão de fases, de anos, de meses. Pode mesmo ser uma questão de dias. Por essa razão os filmes que escolhi ontem podem não ser os mesmos de hoje
(por acaso quase são)
, e os de amanhã serão diferentes. Quando tiver quarenta anos, trinta anos, tantos mais anos, o dobro, do que tenho agora, os filmes serão diferentes.
(como isto é um memorando como o da página cento e sessenta e um quinta linha fui ver outros blogues outras pessoas e observar as suas escolhas)
E depois de os ter visto e observado fiquei a sentir-me incomodado com as minhas escolhas. Deveria ter escolhido filmes mais antigos? Assim, sem dúvida que pareceria mais inteligente, mais bem documentado. O filme mais antigo que escolhi tem treze anos
(no entanto já estou arrependido da escolha que fiz ontem não me lembrei do paris texas não queria tirar nenhum da lista apenas acrescentar outro)
.
O facto do filme mais antigo ter treze anos apenas revela várias coisas, entre elas a minha idade, e mesmo que não a revele com exactidão, dá uma pista bastante precisa. Para me consolar lembrei-me de uma ideia do Stanley Fish
(o mesmo que disse ‘every decoding is another encoding’)
, que afirmava que não existiam ideias originais, uma vez que a arte tem como alicerces tudo o que foi feito anteriormente. Pensando de forma lógica, isso poderia querer dizer que o que se faz agora é melhor, na medida em que já remediou e sublimou tudo o que ficou para trás, do que foi feito antertiormente
(então e porque é que não é o que é que falha porque é que continuo a preferir os the beatles a muitas outras bandas)
, da mesma forma que o Duchamp foi o precursor do design ao democratizar a arte através de um urinol num expositor.