Da vida como é ou como acontece
É fácil criar um blogue, serve para muitos propósitos. Para dizer mal, para dizer bem, para dizer. Para dar voz a quem a quiser ter
(e quem puder pagar a ligação do telefone e internet mas hoje em dia já nem isso tem precisão que em quase qualquer lado se encontra um serviço que faculta internet gratuitamente)
. Arranham-se um, dois, três vitupérios e upa!, está feito, usou-se o blogue e agora fica, posta restante na cauda do intocável, imerecido desaparecido.
O espaço virtual é infinito, talvez por isso se chame espaço. Tal como o espaço que existe à nossa volta cujos limites desconhecemos
(isto tudo para me limpar de um desaparecimento de quase dez dias que teve origem com a conjunção de um espelho e uma noite de copos que não existiram porque isto é tirado de um conto do borges. foi do trabalho do gás cortado e do amor que existiram em medidas e lugares e quantidades diferentes foi bom mas fiquei com um peso na consciência agora que eu me preparava para escrever algo maquiavélico sobre nietzsche mas como em mim sei que não tenho que prestar contas a ninguém que devo estar para além do bem e do mal não me importa que sobre nietzsche fique para outra altura)
.
Haveria necessidade de explicação? Porque escrever não é só escrever, de cada palavra retira-se do produtor do blogue o seu perfil, a sua figura, a sua leitura e audição, a sua visão e tacto. Criam-se pessoas reais partindo daquilo que elas escrevem. Justificar um desaparecimento de dez dias é dizer, que também preciso de espaço, é dizer bom natal, bom ano, bom carnaval, boa páscoa. É querer bem àqueles que nos lêem
(podia até ter a modéstia de acrescentar se tivesse quem me leia mas sei que tenho não visito o meu próprio blogue de vinte computadores diferentes por dia)
. Não escrevo por escrever, ainda que por vezes me pareça a coisa mais natural a fazer. Escrevo porque gosto e ao mesmo tempo é uma actividade extremamente dolorosa
(porque está na nossa natureza sermos cruéis e se o não formos com outros acabaremos por sê-los com nós próprios)
.Também não por catarse. Escrevo para ser lido, mas não para angariar leitores
(porque se o quisesse sei que o conseguiria da mesma forma que o já fiz em tempos e depois tudo foi mudando naturalmente que se foram embora todos com os seus comentários e ficaram aqueles que queriam ler e que percebiam. a esses que me lêem a vários níveis foi tempo sabático)
e comentários, porque me lê quem quiser.
Amanhã talvez volte às diatribes nietzschieanas. Tudo de bom.