O Verbo: ler
Desde há muito tempo que me debato com a mesma dúvida
(e são tantas sem nunca chegar a uma solução a minha incapacidade crónica de tomar um partido de aceitar argumentos de ambas ou mais partes mas sem nunca me comprometer com nenhuma mantendo uma posição de superioridade indecisa como se todas as respostas e possibilidades residissem em mim e por isso eu não tinha que fazer opções apenas tê-las)
, sem nunca conseguir chegar a uma conclusão. Mas tem mesmo que haver uma conclusão? Ou posso ficar apenas com o meu ponto de vista? O problema reside na impossibilidade de eu optar por um ponto de vista, eliminando todas as outras possibilidades
(porque conclusões não existem são tão positivistas quanto as definições)
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O chavão: os portugueses andam a ler mais. Isso é óptimo? Até seria seria se os portugueses fizessem alguma ideia daquilo que deviam ler
(perigosa esta afirmação uma assunção do conhecimento canónico ou emergente e a presunção de que está em mim o poder de decisão daquilo que as pessoas devem ou não devem ler mas não posso deixar de pensar que livros sobre anjos santos e predições do futuro não serão a leitura mais recomendada)
. Será melhor ler qualquer coisa ou não ler? Tal como a maioria das dúvidas que fui criando, acariciando e nutrindo ao longo do tempo esta foi uma das mais complicadas e das mais difíceis. Ainda sem uma solução ou uma conclusão, arrisco uma opinião pessoal em duas partes
(uma das razões que levas as pessoas a ler é o exemplo que em crianças têm dos mais velhos uma criança que viu os pais os educadores a ler inconscientemente fica com a ideia de que as pessoas que lhe são de referência retiram prazer da leitura e ela própria há-de querer experimentar para também poder retirar prazer desse acto)
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(os livros esotéricos que falam de cartas anjos santos demónios crenças seriam à partida uma leitura não recomendável. uma das funções destes livros além da inalienável função do livro é modificar padrões de comportamento e matrizes de pensamento de forma mais ou menos explícita. alterar a matriz de pensamento é alterar a estrutura na qual assenta uma pessoa e na qual se baseiam todas as decisões nesse sentido o sujeito fica com duas opções a anterior e a presente. nesse sentido é mais livre porque independentemente do conhecimento adquirido tem a possibilidade de saber mais e ver observar de mais perspectivas. se essas perspectivas são boas ou más é um juízo de valor moral e intelectual da matriz individual de quem executa o juízo)
. Sim, as pessoas devem ler. E se não for para o seu próprio bem, para o bem dos seus precursores.