Fantástica Gramática Automática
Monday, January 07, 2008
  Fazer mudanças
É tão difícil fazer mudanças. Não as dos outros, essas são fáceis, é dos trabalhos mais fáceis que existem
(esvaziam-se gavetas para dentro de caixas desmontam-se armários e camas cómodas com triciclos bicicletas)
e não temos que nos preocupar com mais nada a não ser com a a força que temos que fazer nas pernas e nos braços e muito cuidado com as pernas por causa das costas. Quando são as nossas próprias mudanças
(não são os músculos das pernas nem dos braços nem o baço das costas que custam é a vida que temos que arrumar sem saber quando a voltaremos a desempacotar e sem saber se quando o fizermos não estará já tudo demasiado espartilhado e envelhecido tão fora de moda que já não sabemos que éramos e o passado novo que já construímos substitui tudo aquilo que está mais para trás)
é a cabeça que se cansa, são os olhos que não sabem decidir que vida queremos guardar.
É como arrumar a cabeça, há coisas que esquecemos, outras que guardamos sem qualquer critério
(as memórias são tão pouco criteriosas e obedecem apenas a encontros aleatórios que temos ainda há dias encontrei numa gráfica onde fui fazer um scan um colega de faculdade que não era amigo porque andava a ver se fornicava com a minha namorada da altura)
e de repente lembrei-me de tantas coisas que já não me lembrava que me lembrava. Daquelas que não sabemos porque é que nos lembramos nem sabemos porque é que guardamos connosco
(daquelas que sem o menor pejo jogaríamos no lixo e só conjugo o verbo jogar neste contexto porque já li o lobo antunes a fazer o mesmo num livro dele por isso já não tenho vergonha de escrever já que assim que estou tão perto do algarve para escrever jogar como estou da beira para dizer à minha beira)
. Mas porque é que não deitamos para o lixo aquilo que não interessa? Porque é que insistimos em transportar no nosso corpo tatuagens mentais da nossa vida
(momentos vergonhosos e humilhantes a que só assistimos na individualidade do nosso corpo e na precisão cirúrgica do nosso próprio juízo sobre a carne flácida)
?
Acabamos por trazer às costas pesos que sabemos e que não sabemos, como as pedras que nos colocavam às escondidas na mochila
(a mim pelo menos)
.
 
Comments:
É tao FACIL fazer mudanças deixar o passado no passado o presente no presente ...é tao facil deixar tudo para traz e começar de novo o que realmente nao sera facil é quando nao se teem escolha...
 
Ao fim de quase um ano na minha casa, ainda deito fora coisas que, ao sair da antiga, foram encaixotadas na categoria de "indispensáveis"... mérito da cara-metade, do distanciamento que a saída garante, das coisas novas que vão surgindo. O que mais me arrepia é oferecer os livros repetidos. Já viram a confiança que isso implica?
 
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