Escrever sobre fenómenos faz com que quando os atravessamos, estejamos muito mais atentos às suas manifestações. Como produtor de um blogue sou dos da pior espécie
, muito pouco transparente e quase nunca entro em diálogos. Os diálogos mais interessantes entre blogue
(não são aqueles que se estabelecem através de caixas de comentários)
são aqueles que se estabelecem no corpo de texto, com links e referências. Começou com o meu comentário a um
produto da MP e tive direito a
uma resposta a
dois tempos
(deixando a caixa de comentários de lado a não ser a minha como extensão)
.
Assumir que há uma alma é assumir que há uma essência, a diferença reside na nomeação
(havendo uma essência todas as definições são tornadas possíveis tudo fica fixado e etiquetado e elimina-se o espaço da discussão)
. Partindo do princípio da sua existência, cada objecto terá uma essência exclusiva que o distinguirá dos demais objectos O que é, então, a essência de uma mesa
(pelo menos três pernas e um tampo mas isso também pode ser uma cadeira um banco um balcão)
? A essência não se encontra nas característica físicas. A natureza essencial da mesa é a função que serve
(comer beber trabalhar pousar objectos)
, contudo essa também pode ser a função de um banco ou de uma cadeira
(porque também as cadeiras e os bancos podem servir de mesa se a ocasião se proporcionar)
. Ou seja, a essência da mesa não é algo exclusivo, mas algo que também pode ser partilhado com outros objectos. Ou seja, é a sua função. A essência de algo não existe separada daquilo que é a sua forma
(um objecto é determinado através da relação de equilíbrio entre a forma e a função)
.
Partir do pressuposto de que a essência é algo fechado é excluir a possibilidade de contactos metafísicos entre as pessoas, ou seja, de relações baseadas em sentimentos
(quaisquer que estes sejam)
. Os sentimentos em relação, ou seja, sociais, carecem de inclusividade e não da exclusividade ensimesmada da alma que estás a defender. Tal como a mesa e a cadeira, a relação entre indivíduos carece de uma manifestação física e uma metafísica – a função.
Temos, entretanto, estado a partir do pressuposto cristão de que há uma alma
(ainda que eu tenha relativizado objectivamente para essência)
. Retomo alma para mostrar quão problemático é este conceito. Alma como separação do nosso físico é um conceito de dificilmente dominamos
(mesmo dante na sua descrição do inferno e do purgatório descreve danos físicos infligidos ainda que metaforica e metinimicamente em objectos metafísicos a alma)
, por não o conseguirmos conceber ou determinar, por não ser físico. Esta dificuldade deriva da forma como encaramos o mundo
(em relação com o nosso corpo)
. A separação entre corpo e alma remete-nos para forma e função, equação na qual se equilibra a mesa e a cadeira, tal como o Homem, as quais não podem tidas separadas ou perdemos o significado do objecto.
A verdade é um produto dos vários zeitgeists, tal como tu afirmaste
(e eu ia exemplificar através do período pré-galileu e pós-galileu)
, o que a torna num oxímoro enquanto conceito absoluto. No momento em que encaramos a verdade como algo dinâmico, tal como qualquer outra definição ou determinação, ela faz sentido, na medida em que é um produto criado
.