A memória e o esquecimento
Sempre que vejo este filme tropeço nesta frase e fico com ela agarrada no sentido e durante dias não consigo deixar de pensar noutra coisa
(acho que até uma vez já escrevi sobre isto e até era engraçado ir descobrir quais é que foram os meus pensamentos da altura creio que há três aos atrás)
. Desta vez ainda tive alguém com quem conversar que não tinha a mesma opinião que eu
(porque não era eu)
, da outra vez foi um exercício solitário.
As memórias somos nós a lidar com o passado. Porque se não quiséssemos guardar pedaços do passado, se não nos quiséssemos agarrar algo que foi e que não vai tornar a ser, não guardávamos memórias
. Guardamos aquilo que nos é querido
(as memórias em que conseguimos lidar bem com o passado)
e aquilo que não é
(memórias más que vagueiam incompletas)
. É aborrecido falar das memórias boas porque delas não há muito para dizer, além de que são boas e ainda bem que tivemos esses momentos porque não se vão repetir. As memórias más
(como todas as coisas más)
são mais interessantes porque requerem mais trabalho. As memórias más são incompletas porque nos devolvem erros, necessitam que olhemos de novo para elas
(ao contrário das boas que pedem uma atitude dantescamente doce as más pedem as costas largas e espírito de confronto)
. Algo mau obriga-nos a um esforço maior, requer que olhemos para dentro de nós
(que reconheçamos a nossa mediocridade)
e que lidemos com aquilo que encontramos. No momento em que uma memória má está completa pode ser esquecida. A pior memória má da infância ressurge na idade adulta, quando conseguimos, finalmente, lidar com ela
e estamos prontos a esquecê-la.