O medíocre
E, por fim, a questão ergue-se: onde é que a produção e o consumo me trouxeram
(o reconhecimento da ansiedade da influência e da ausência de qualidade pelo menos ao ponto pérola que desejava)
? Ao reconhecimento da minha mediocridade. Faço tudo para me provar errado e continuo a produzir. Mas não tenho a certeza se há razões ainda para ler e escrever, porque qualquer um desses actos será repetidamente sempre o reconhecimento da minha ausência de valor
.
Mas faço tudo para me provar errado já disse
, leio Platão e Nietzsche, escrevo sobre eles e depois Aristóteles, faço piadas e raciocínios simples, porque não consigo mais. Para parecer que sou muito educado e intelectual, mas recorro a uma linguagem erudita e anacrónica
(como as palavras e conceitos erudito e anacrónico)
para mascarar a mediocridade. Não é só uma base cutânea para esconder as olheiras
(é também uma base intercutânea para esconder a fealdade metafísica e ausência de traços distintos)
.
E, por fim, a questão ergue-se: porque é que continuo a produzir
(produzir na esperança de poder ser reconhecido não acredito em escapes de ideias escrevo porque quero ser lido apesar do meu blogue ser ilegível cada vez mais)
? Porque quero um qualquer reconhecimento.
Não quero, no entanto, que o meu blogue seja impresso e vendido
(não faz parte do formato dos meus conteúdos quando produzo para o blogue)
, mas se essa hipótese fosse real, aceitaria
(porque quero um qualquer reconhecimento por isso continuo a produzir)
. Mas a impressão de um blogue não é a consagração do seu produtor nem dos seus conteúdos
(mais é sinal da sua popularidade do que de qualidade a avaliar pelos exemplos)
, é um sintoma do poder do mercado livreiro e do prestígio do livro, independentemente do seu conteúdo
(por que outra razão comprariam as pessoas um conteúdo que está disponível gratuitamente)
.
Produzirei ainda sabendo que aquilo que produzo é medíocre
(devia escolher a ignorância a alternativa torna-se absurda se não compreendo o que leio e o que produzo)
. A alternativa não é se não tivermos força suficiente para a sofrer.