A polissemia da tristeza
A solidão confronta-nos quando menos dela temos precisão
(até rodeado de pessoas podemos estar)
. Queria poder voltar a escrever sobre a tristeza com extrema metaforização, mas já não o sei fazer. Fui demasiado longe
(passe além de um certo ponto de não retorno e tudo aquilo que posso fazer a partir de agora excluí aquilo que uma vez já fiz em modo repetido)
para poder voltar a escrever do modo que escrevia. Mesmo que quisesse já não seria capaz de o fazer, as metáforas envelheceram empoeiradas, cortinados pendurados ao sol que lentamente perderam a cor e ganharam nevoeiro.
Lembro-me quando o autobiografismo era tão directo que passava por uma ficção dirigida a uma segunda pessoa do singular. Deixou depois de o ser
. Não sei o que se passou entretanto, a minha biblioteca mudou e ganhou profundidade. A minha tristeza mudou de uma total metaforização do eu através dos cortinados velhos
, passou do plano sentimental e metafísico para o plano totalmente físico.