É um diálogo
(o narrador na primeira pessoa do singular)
A ideia era um diálogo que envolvesse uma diferença de perspectivas. Não encher o texto de parágrafos e parêntesis e seguir a duas vozes que tinham origem em mim mesmo, e se ontem pretendia que assim tivesse sido sobre literatura e ficção, hoje há-de ser sobre blogues que são impressos em livros – ainda que tivesse muita vontade de escrever sobre pós-modernismo sinto que ainda não sei o suficiente para o fazer, mas novidades sobre isto, em forma de diálogo ou não, hão de surgir.
E vai assim.
(o primeiro interveniente na primeira pessoa do singular)
“Há uma nova tendência nos blogues que são muito populares. São impressos e vendidos como livros.”
(o segundo interveniente na primeira pessoa do singular)
“Pois claro, produção gratuita é que não. Alguém tem que ganhar dinheiro com isso. Almoçar, produzir de graça é que não.” (pausa) “Mas tenho a impressão que a maioria desses blogues são relacionados com sexo.”
(o primeiro interveniente na primeira pessoa do singular)
“De início sim, porque era aquilo que vendia mais tendo em conta a popularidade que tinham enquanto blogues. O que me parece ser bem mais interessante é o nome que foram dados a esses objectos. Blooks. Há até uma editora que faz concursos de blooks.”
(o segundo interveniente na primeira pessoa do singular)
“Mas não faria mais sentido fazer um concurso de conteúdos mais do que um concurso e baseado no medium em que o conteúdos é produzido. Repara. Apesar de concordar com 'the medium is the message' de McLuhan, isso refere-se essencialmente às expectativas que se tem em relação ao medium em que vai consumir uma certa produção. Por isso parece-me que não há necessidade de distinguir concursos de livros – que são considerados concursos literários –, concursos de blogues e concursos de blooks.”
(o primeiro interveniente na primeira pessoa do singular)
“Mas estás a pensar apenas pela cabeça do consumidor. O produtor tem também expectativas e condiciona a sua produção tendo em conta o medium para o qual está a produzir. Achas que não faria diferença, se produzidos em media diferentes, quando colocados na mesma plataforma – na possibilidade dessa plataforma ser inócua a toda a produção?”
(o segundo interveniente na primeira pessoa do singular)
“Não sei... Talvez tenhas razão, o medium influencia todos os pólos da comunicação e é influenciado por todos os pólos da comunicação, mesmo aqueles que não nos apercebemos que estão presentes.”
(o primeiro interveniente na primeira pessoa do singular)
“E aquilo que está em causa é uma escala de prestígio. No topo está um concurso de livros – porque estes exigem o reconhecimento de uma editora – e no fundo o concurso de blogues que dependem apenas da produção individual de um sujeito. No meio, os concursos de blooks, que eram produções individuais mas que, por motivos comerciais ou literários ou outros quaisquer foram impressos em livros.”
(o narrador na primeira pessoa do singular)
E foi assim. E fomos todos beber café. Eu narrador na primeira pessoa do singular, Eu primeiro interveniente na primeira pessoa do singular, Eu segundo interveniente na primeira pessoa do singular.