Medidas de peso
Ainda agora me lembrei porque é que gosto tanto do romance do Milan Kundera
(a insustentável leveza do ser)
. A mesma razão que me faz sentir tão intimamente ligado ao romance é a mesma pela qual nunca serei capaz de fazer uma análise crítica à obra
(na sua totalidade talvez num personagem ou no seu carácter leve e pesado a que italo calvino se refere nas seis propostas das quais apenas escreveu cinco)
: a razão reside ser leve e pesado ao mesmo tempo. Apercebi-me há pouco que levava uma vida extremamente leve e despreocupada. Emociono-me facilmente com o que me rodeia
(até com a joaninha que no parque enquanto comia bolachas de gengibre resolveu descansar numa página especialmente bélica do livro que estou a a ler)
, sem nenhuma razão particular, apenas porque gosto de viver. As vida é, geralmente, para mim, leve.
Encontrar entre Tomas e eu um paralelismo, é a metáfora mais correcta. Porque mais do que nos encontrarmos num ou mais pontos, não nos encontramos definitivamente. Mas também não nos afastamos. Vivemos à mesma distância constante. E onde a vida é mais leve para ele
(as mulheres e os homens e o sexo)
é onde para mim se torna mais pesada. É aí que me torno Tereza, empregada de cafés e bares e lojas e museus e cuja pudícia na sua nudez e na partilha do seu corpo é muito grande
(é a mulher que eu sou que me torna pesada não o homem)
. Nesse momento em que sou mulher a vida torna-se tão pesada que se caísse ao rio e não nadasse o meu corpo afundar-se-ia como se nele houvesse ar algum
(e mesmo que nadasse duvido que as forças me elevassem à superfície)
. Quando a vida assim pesa tanto quero morrer. Mas quando se torna leve quero viver.