Que hei-de eu fazer com este blogue? (outra vez)
Isto é como na adolescência em que tinha crises existenciais dia sim dia não e que acabavam com as minhas mãos nas mamas de uma colega nas traseiras da escola
(o mais certo sempre foi com as mãos dela na minha braguilha porque eu sempre me interessei por mulheres mais velhas e que sabiam bem mais do que eu)
. Era tão simples quanto isso: as mãos nos corpos faziam esquecer quem sou, de onde venho, para onde vou. As hormonas e o corpo em movimento sobre si mesmo faziam sempre esquecer problemas metafísicos mais profundos
(ou pelo menos era assim que pensava na altura que agora os problemas metafísicos fazem com que a tesão desapareça num instante)
.
E por isso
(sasonalmente qual período menstrual que acontece de seis em seis meses)
as dúvidas ressurgem. Não sei o que mais hei-de fazer com este blogue. Estou farto de exercícios de estilo e conteúdo
(ou de exercícios de estilo ou conteúdo algo a que devo retornar no próximo domingo)
. Sempre me pareceu natural escrever um blogue porque gosto de escrever. Agrada-me o reconhecimento que tenho da escrita
(mas quase três anos depois o índice de visitas diárias é tão reduzido que equaciono se a produção tem valor quando não há consumidores)
. Era também natural escrever um blogue porque não faria sentido estudar academicamente o blogue se não tivesse um, se não tivesse profundo comnhecimento de causa.
Um investigador italiano escreveu, a propósito da definição de blogue, que o blogue não se tratava de um diário pessoal, mas sim de um diário intelectual. Isto relacionava-se com a
(e pretendia mostrar o erro da)
constante associação da definição de blogue com a etimologia da palavra que o nomeia. Agrada-me o diário intelectual no sentido em que é algo que é produzido para um público e que é para ser lido, que não é para permanecer privado, pelo menos em teoria. Se um diário pessoal é escrito para ser publicado
(quer em formato blogue ou formato livro ou noutro formato qualquer)
fica automaticamente assombrado pela possibilidade de ficção. Não tem o carácter de quase-pureza que um diário pessoal postumamente tornado público tem
(ou pelo menos não é tão assombrado mas em coisas desta natureza as taxonomias são um perigo e ficamos apenas pela sugestão)
.
O blogue tornou-se num diário do meu raciocínio. Mas se o tornei público pelas razões que o tornei público e com isso não tenho consumidores, fará sentido continuar?
De modo semelhante, por estudar o o blogue da perspectiva cultural ou da perspectiva literária, não significa que tenha que escrever um blogue. A maioria dos críticos literários não produz romances nem contos, apenas os analisa e trabalha sobre eles
(talvez devesse analisar blogues e escrever livros oferecendo o lombo a acusações de anacronismo medial)
. Para já, a gente vai continuar.