Fantástica Gramática Automática
Tuesday, February 26, 2008
  Isto devia andar tudo ligado
Devia estar a escrever em inglês
(porque o conceito-chave ao redor do qual escrevo é inglês e é algo que não tem tradução para o português)
. Mas há a tentativa de remediar a língua, expandir as palavras para que aquilo que se escreve faça sentido. Às vezes tem que ser assim, têm que se desdobrar as palavras que têm muitos significados
para que nos consigamos aproximar daquilo que queremos: é sempre um mais próximo possível e nunca o ponto exacto. Às vezes, com infinitas palavras, não se consegue o efeito de uma palavra só.
Retiramos de trabalhos criativos
(arte)
conceitos que nos ajudam a teorizar sobre esses mesmos trabalhos e sobre os seus sucessores. No entanto, há uma enorme relutância em aceitar as ideias nas novas produções
porque as não há. Anualmente, autores
(serão eles mesmo produtores do seu produto ou apenas um nome ou uma cara para os vender)
editam, publicam uma nova obra
(mas que obra é esta que ideias novas traz onde é que se encontra a ideia que nos faz pensar e que não nos entretém apenas)
. Aquilo que era a inscrição de uma ideia, uma manifesto do viver, transformou-se no passatempo de outrém.
A poesia, o romance, a escultura como veículo de ideias filosóficas rareiam tibetanamente. Mesmo a música que estava intimamente ligada às ideias que veículava
, foi segmentada, separada. Há uma demissão intelectual e conceptual daquilo que se produz. A música devia estar intimamente ligada à palavra cantada – quando a há – e vice-versa, uma não deveria poder existir sem a outra.
As ideias em qualquer produção artística deviam estar intimamente ligadas à conduta do seu produtor
(por isso o autor não morreu e quando não sabemos muito bem o que fazer com tanta produção secundária recorremos ao autor para explicar)
mas o o tempo dos poetas-filósofos, dos romancistas-filósofos, ensaístas-filósofos, músicos-filósofos terminou
(e palavra sobre a qual todo este texto assenta é bounded)
.
 
Wednesday, February 20, 2008
  Que hei-de eu fazer com este blogue?
Este blogue é verosímil e coerente. É coerente na sua incoerência o que faz com que seja verosímil com a contingência do produtor
(até fazia uma aliteração bonita subjectividade do sujeito ainda mais porque são palavras com o mesmo radical mas como o campo semântico a que a palavra subjectividade se refere não nos interessa temos que deixar de lado a aliterção porque aquilo que realmente interessa referir é que cada blogue é incoerentemente coerente porque reflecte pelo menos um sujeito)
. Do mesmo modo que o produtor de um blogue tem diferentes interesses, o blogue irá reflectir o produtor em si
(a malta dos estudos comparatistas pela-se por esta metáfora do espelho e do reflexo e já que ando a escrever sobre os blogues poderem ser literatura mais vale escrever qualquer coisa que eles gostem para ver se me largam do pé)
, como todos os seus interesses. Irá espelhar, de modo distorcido, todo um indivíduo
(este blogue diz nas entrelinhas que o sujeito que o produz é alguém que está fascinado com o mundo maior que começou a descobrir e que o quer mostrar a toda a gente e dizer olhem olhem como eu sou tão inteligente)
.
Este blogue vai mudar. Este blogue vai começar a ser diferente. O texto, às vezes, vai cair para a caixa de comentários
(como a condensação no vidro de um carro)
. Porque posso. Que hei-de eu fazer com este blogue?, com tantos parêntesis que tem? Tirar alguns
(uns quaisquer de preferência os grandes e importantes para que se lidos não forem o texto se perca)
e aventá-los para a caixa de comentários. Porque se estes parêntesis são comentários que acrescentam algo mais à produção, colocá-los então no seu devido lugar. E vou fazê-lo tantas vezes que para se perceber o texto tem que se ter a caixa de comentários aberta
(a partir de agora também vai ser assim o que não quer dizer que seja sempre)
, porque este blogue é um blogue e não é outra coisa que não um blogue. Quando quiser escrever outra coisa que não seja um blogue
(como um romance ou um conto ou outra coisa qualquer que fica deslocalizada num blogue)
fá-lo-ei no formato apropriado.
A partir de agora
isto começa a funcionar neste blogue. No caso de haver mais do que um parêntesis
na caixa de comentários, que já não é parêntesis mas comentário, a ordem na qual surgirão será uma ordem não-aleatória.
Podia não ter explicado nada. Fazia e pronto e contava com a inteligência contingente de cada consumidor para alcançar a minha ideia. Mas a explicação faz parte da função pedagógica
(sei que falta uma palavra na frase anterior mas eu não tenho coragem de a escrever porque nem mesmo a minha soberba me permite)

.
 
Thursday, February 14, 2008
  NÃO AO ROMANCE HISTÓRICO
“As histórias tradicionais (...) não devem ser alteradas, mas o poeta deve, ele próprio, ser criativo e usar bem os dados tradicionais” (Aristóteles, 2007: 1453b 23-28).
Tal como Aristóteles, também eu sempre achei os romances históricos extremamente inadequados e ordinários
(viva viva viva três vivas porque não gostamos de romances históricos ainda que todos os romances sejam históricos mas isso não interessa)
.

ARISTÓTELES (2007). Poética. Tradução de Ana Maria Valente. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.
 
Tuesday, February 12, 2008
  Da intelectualidade
Será que fico realmente sentido quando me chamam intelectual
(não sou demasiado vaidoso para não me sentir orgulhoso. Mas isto é tudo uma questão de poder e de capital como dizem barthes baudrillard bourdieu. conhecimento é poder. ui já cá faltavam os tiques dos intelectuais que é citar autores atrás de autores e esperem até ao próximo post)
? Nem por isso, continuo a procurar uma audiência mais estúpida que eu.
 
Monday, February 11, 2008
  Da não-intelectualidade
Antes de começar a escrever
(embora já tenha começado a escrever e aquilo que eu queria dizer era antes de começar a escrever sobre aquilo que eu quero realmente escrever mas isto eu também quero realmente escrever então é antes de começar a escrever aquilo que vou escrever de seguida)
queria que ficasse expresso que nunca estabeleço nenhum protocolo prévio, que não o título, sobre aquilo que vou escrever. Mas hoje é diferente, porque hoje honro um compromisso e escrevo algo que não é intelectual.
Vou escrever um post que fala de amigos e copos e conversas, mas como já sabem como isso se escreve não merece a pena que eu repita. É um post sobre a Graça
(sobre restaurantes indianos e sobre a barriga cheia e vinho da casa carne assada e carne grelhada arroz de marisco aldrabão sobre sushi em quantidades industriais)
, sobre pessoas, sobre afinidades e sobre nós, sobretudo sobre a amizade
(até podia ser um tratado da amizade)
. E como já disse tudo aquilo que ia fazer parte daquilo que ia escrever acho que até já ficou escrito, tenho medo de me alongar, tenho medo que fique intelectual. Este é um post sentimental.
A felicidade deixa-me triste, os momentos aqui e ali deixam-me triste porque sei que são mesmo só aqueles, cada um tem um carácter de irrepetibilidade.

Este post é para o cosmonauta e para a M..
 
Thursday, February 07, 2008
  O desejo e a soberba
Ainda há dias saía da faculdade e parei em frente à reitoria a olhar para os motoristas sentados nos carros. Só carros bons, daqueles que têm precisão de motorista. Vinha cansado e doía-me a cabeça
(no que diz respeito à dor nietzsche tinha toda a razão)
mas mesmo assim parei em frente à reitoria a olhar para os motoristas sentados nos carros
(pensei como seria bom ser motorista não pelas horas que passava atrás do volante mas pelas horas mortas que poderia ter a esperar por quem quer que fosse enquanto lia tudo aquilo que nunca poderei ter tempo para ler. gosto de imaginar que seria um motorista que lia dante e goethe e milton e essas coisas todas e as pessoas vinham-me perguntar coisas porque eu sabia coisas)
. Lembrei-me que houve uma altura da minha vida em que queria ser taxista, porque isso queria dizer que podia conduzir o dia inteiro. Podia conduzir e nas horas mortas lia e ouvia música.
Algo me impede de ser motorista profissional
(suponho que a minha própria soberba)
. Para Larry, um dos personagens de livros que li que mais me fascinou até agora
(maugham w somerset 1963 the razor's edge harmondsworth penguin)
, tudo residia no viver e não na inscrição da sabedoria que ía acumulando. Ele acabou por ser taxista em Paris e camionista por todos os Estados Unidos da América. A soberba e o desejo de reconhecimento público impedem-me de ser motorista profissional e impelem-me a quaisquer meios de exposição pessoal
(tenho ouvido recentemente que não há mal nenhum em que queiramos que nosso trabalho criativo qualquer que ele seja seja pago e reconhecido mas há em mim uma falsa modéstia mais forte que as minhas honestas pulsões)
. Suponho que, mesmo sendo motorista profissional e podendo ler tudo aquilo que gostasse de ler, eventualmente acabaria por chegar onde cheguei, um meio caminho para um qualquer lugar.
Não há nada de indecente em ser motorista profissional
(aliás não há nada de indecente em qualquer profissão desde que seja exercida honestamente)
. No fundo, sou demasiado vaidoso e orgulhoso para que conseguisse guardar tudo isso dentro de mim, havia de querer encontrar sempre uma audiência mais estúpida que eu
(porque é assim que as coisas funcionam temos que encontrar sempre alguém mais estúpido que nós para que as nossas palavras sejam tidas como sábias)
que estivesse disposta a ouvir aquilo que tinha para dizer.
 
Wednesday, February 06, 2008
  O que é este blogue?
Este blogue é um fim em si mesmo. Não liga a lado nenhum.
 
Sunday, February 03, 2008
  A pilinha e a advertência no século dezassete
“– Efectivamente – disse-lhe, interrompendo-o –, reparei que, como essa serpente tenta sempre fugir do corpo do homem, se vê a cabeça e o pescoço saírem do nosso baixo-ventre. Mas Deus não permitiu que só o homem fosse atormentado e quis que ela se empertigasse contra a mulher para lhe lançar o seu veneno e que a bolha durasse nove meses depois de a ter picado. E, para vos mostrar que falo segundo as palavras do Senhor, Ele diz à serpente para amaldiçoar, que em vão tentaria fazer vacilar a mulher empertigando-se contra ela, pois ela fá-la-ia baixar a cabeça.
Queria continuar com estas fantasias, mas Elias impediu-me:
– Lembrai-vos de que este lugar é sagrado – disse ele.”

BERGERAC, Cyrano de (1999). Viagem à Lua O Outro Mundo ou Os Estados e Impérios da Lua. Lisboa: Guimarães Editores
 
Friday, February 01, 2008
  O quase-plágio
Sou só eu ou há mais alguém acha que o anúncio do Pingo-Doce é um quase-plágio ao manifesto anti-Dantas
(basta pim pum quero preços que não sejam um burro impotente e todas as mais ofensas as empregadas do lidl nuas são horrorosas se o carrefour é francês ainda bem que sou português e tudo mais e tudo mais basta pum basta pim)
? É que a mim me parece tão claro...
 
fgautomatica@gmail.com | 'é necessário ter o espírito aberto, mas não tão aberto que o cérebro caia'
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